Tuesday, April 27, 2021

Inteligência militar, desenvolvimento e valor



É interessante como essa jornada de inteligência militar,
financiando o desenvolvimento ( que acaba ficando óbvia quando se olha para a
guerra fria), tem me guiado em direção a própria raíz do pensamento humano.

Da Vinci - Escrita reversa em italiano



De modo que os modelos de desenvolvimento econômico
que tratam do setor científico da sociedade, acabam sendo uma análise interessante tanto para os EUA da Guerra Fria, quanto para o desenvolvimento
técnico-científico em curso no renascimento com Da Vinci e Europa.



A estruturas das escolas de pintura que Da Vinci e Michelangelo
frequentaram, no que se refere ao desenvolvimento de ideias, em muito se assemelham
aos Think Tanks de hoje. Se no período do renascimento o estudo da geometria se
convertia em pinturas nos templos religiosos, enquanto a inquisição perseguia
Judeus pelo mundo...No período da guerra fria think tanks como Rand Corp
orientavam o pensar humano, até então concentrado nas estruturas acadêmicas,
para a contrainteligência militar.



Leonardo da Vinci traduzido no Brasil: história e apresentação de novas traduções (ufsc.br)

History of Information



 



A perspectiva histórica ocidental é confusa, por efeito da
igreja católica e toda a censura da inquisição, quando se olha o aparente vazio
de ideias que é o período da ‘’idade das trevas’’. Quando o pensar científico
se mistura com um ideário político/ideológico/moral o resultado é sempre confuso.
Na atualidade duas ciências são vítimas disso: Biologia (com os vários
sinônimos de “design inteligente”) e economia em relação ao papel do estado.
Pelo modo como a ciência econômica, refletiu o cenário político do seu entorno,
se convencionou esquecer a distinção entre dinheiro(PIB) e valor.



Pra além de todo ideário marxista, essa distinção tem efeito
mais práticos quando se começa a pensar em como o valor produzido dentro de uma
cultura se traduz em outra, pela própria natureza instável dos mercados de forex
e agora com bitcoin/crypto(geral), talvez o esquecimento desse detalhe comece a
pesar no futuro.



É vazio de sentido querer comparar o desenvolvimento dos
mercados financeiros no Brasil com os EUA, na medida que o Brasil não parte da
mesma origem cultural dos EUA. E o próprio elemento feudal, que aqui se chamou
coronelismo, dá tons muito peculiares ao que seria um capitalismo brasileiro. E no que tange a essa discusão a formação de uma elite intelectual americana ocorre de modo mais acelerado que no Brasil(por que?renda excedente, é uma linha, a própria maturidade do ecossistema academico e de societies Inglês do periodo,é outra).



O que eu tento construir é uma perspectiva que reflita a
materialização de ideias, em valor econômico. Um pouco nos termos de valor
marxistas, mas tentando extrapolar isso com o ferramental mais prático do que
hoje se chama complexidade econômica.



O valor é gerado no processo fabril? Marx e Engels olham
para a revolução industrial inglesa, pra eles tudo ali era processo fabril, mas
as teorias econômicas de desenvolvimento do mainstream atual emergem em meio ao
complexo militar industrial, cidades e centros de pesquisa, que não existem
oficialmente (The US Government's Secret Airline - YouTube)...pra essa teoria americana do desenvolvimento, tudo é setor de
pesquisa cientifica. 

Historicamente são os mais próximos da contemporaneidade analisando
desenvolvimento.



Na Europa o pensar humano se constrói de modo disperso entre
línguas diversas e depois é traduzido ao latim com uma fidelidade questionável
(já que existia a censura do vaticano), mas nos primeiros momentos é centrado
numa elite intelectual de clérigos.



Esse lance da figura religiosa é elemento interessante,
porque para além do aspecto religioso o “padre” era uma figura com tempo,
dinheiro e estrutura para se dedicar aos próprios estudos...ou seja uma
estrutura que oferece o mínimo para o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Na
antiguidade as pessoas encontravam posições sociais similares através de trabalhos
na máquina pública, ou no mecenato. Ponto interessante é que o aparato de
pesquisa da OSRD (Office os Scientific research and development), cria esse
cenário só que de modo extremamente orientado a inteligência militar e métodos para
otimização da guerra: resultando nessa máquina de guerra que o DoD é hoje.

Olhando para China, o próprio acesso a leitura, na antiguidade reflete alguém que estava envolvido na administração pública. Já que as falas do imperador precisavam ser registradas, para viajarem o império, no mais a própria administração pública requer o registro para conseguir funcionar.

Scribes in Early Imperial China (escholarship.org)



Uma curiosidade é que o DoD é tão eficiente hoje, que
qualquer guerra em que esse operacional ingresse por essência do termo, será uma
guerra assimétrica.  Só imaginar um
dogfight entre um drone controlado remotamente via satélite e um caça com
piloto a bordo.

Why Demand or Armed-Drones Is Surging - YouTube



Uma vantagem é que o modelo do DoD foi extremamente
eficiente em produzir pesquisa aplicada que se traduziam empresas, já que o
funding das pesquisas se alinhava com as necessidades do campo de batalha. Isso
alinhado com a tradição trader/mercantil que dominava Nova Amsterdam/York gerou
um cenário com pesquisa financiada pelo governo e a conversão desse valor
criado em liquidez através dos mercados financeiros de Nova York.

O valor se cria na pesquisa e se realiza no mercado, quando ganha a convertibilidade em liquidez.



Na Europa (Latim) o pensar técnico científico gera uma tradição
hedonista, refletida nas ideias de a arte pela arte. Mas chega também no Jeremy Bentham , já numa perspectiva anglosaxã, que vai depois vai virar a microeconomia.



Perceba que nesse processo (do DoD) o estado direciona recursos
para a solução de problemas, então quando a solução ocorre no privado, a origem
dos recursos se perde na propaganda capitalista que é dominante no debate público
americano até os anos 2000.  [The Manchurian Candidate, (1962)] 

O The Manchurian Candidate dá uma perspectiva, sobre porque a sociedade americana é até hoje sucetivel a teorias da conspiração.



No mais, não tenho grande conclusão, acho que minha ideia é destacar
essa geração de valor no desenvolvimento de ideias.



Possível dedução bem incerta: Assim como a parceria
Estado-Chaebols gera uma superação da renda média na Coréia do Sul, há boas chances
de que com um mundo mais centrado na China, isso logo vá se reproduzir na DPRK
e talvez em Cuba. É tudo uma questão de analisar as estruturas de geração de
valor/ideias nessas sociedades e a capacidade que elas teriam de realizar esse
valor. A China tem sido bem ativa em coordenar esse processo de geração e
realização do valor na sociedade, mas o nível real é bem incerto, assim como o
estado das estruturas de geração de valor em DPRK e Cuba.



North Korea and the 'third world' - NKNews Podcast Ep. 179 | NK News - North Korea News


Conclusão razoável: na medida em que o Brasil já está bem
atrasado, o quadro é confuso. No militarismo brasileiro, se atribuiu essa "geração de valor" à indústria, não acho que isso faça muito sentido no mundo de
hoje. O próprio modelo sul-coreano concentra os centros de pesquisa e exporta
as fábricas.



 (Uma curiosidade sobre Coréia e o operativo de
inteligência da DPRK é que para um se passar pelo outro é relativamente fácil. Mas
sigo na linha que o core de DPRK em intel é arrecadar moeda forte)



Até algum tempo atrás, o Brasil já era renda média, então
apesar do declínio recente, talvez o ponto brasileiro seja mais superar a renda
média do que atingi-la,caso onde modelo industrial que domina o mindset da
discussão econômica no Brasil seria o ideal. 

Uma busca indústrial só faria sentido para brasil, num novo mercado ou algo muito especifico com barreira de entrada, como indústria quimíca (pensando que as batérias de Lítio da Samsung, ainda são fabricadas na Coréia; talvez pra preservação de tecnológia fábril, e gerando trabalhos de colarinho azul).

Em suma indústrialização não deve depender de protecionismo generalizado, mas de desenvolvimento tecnico-cientifico, que em si é uma proteção natural. Isso implica um risco de espionagem indústrial, para o qual o estado deve estar preparado. 

How a stolen capacitor formula ended up costing Dell $300m | Dell | The Guardian

De qualquer modo a manutenção de planta fabril, é sempre uma discussão politíca, antes de econômica. Mas o contexto de proteção de propriedade intelectual em processo fábril, acaba sendo um argumento econômico.

Um comentário adicional

O primeiro a chegar na fronteira
tecnológica, não tem a preocupação com eficiência, em contratos com o governo,
ou com os Sforza (no caso Italiano) a margem de lucro é suficiente para que
inexista a preocupação com eficiência. Por tabela a produtividade é naturalmente maior, quanto mais perto da fronteira voce(nação) esteja.


Sunday, April 25, 2021

China: Língua e cultura

Diferente do brasil, onde várias culturas se juntam ao redor da língua o Chinês reflete a cultura chinesa, e precisa da...

Posted by Daniel Rodrigues Parente on Sunday, April 25, 2021

Saturday, April 17, 2021

1964 - Brasil paralelo e um histórico do SNI



Eu sigo interessado em inteligência militar (desse nome vem os military
intelligences [MI1,5,6...n] britânicos)
de modo geral. Guiado por uma
curiosidade quanto a origens e perfil organizacional do SNI, e certa preguiça
literária, decidi assistir 1964 do Brasil Paralelo. 

De modo geral o filme foi
bem inútil no que se refere a responder minhas perguntas, mas foi uma experiência até que interessante, no sentido de entender os limites que existiram na comunicação de massa durante
a epifania bolsonarista que o Brasil viveu, foi interessante. Considerando que buscava uma
perspectiva mais Brilhante Ustra, encontrei pesquisa de Wikipédia e falta de
contextualização histórica.



Muito do argumento na narrativa gira em torno de relatórios do
serviço secreto Czech...legal, mas para além da trilha sonora de suspense,
percebe-se um vazio argumentativo quando se fala de entender o operacional de inteligência
militar...lá pelas tantas o Olavo de Carvalho fala que não há registros de
agentes do país X ou Y no Brasil, o cara deve tá achando que espião tem que ter
carteirinha com assinatura autenticada em cartório.



Outro ponto interessante, muito da coleta de informação que
hoje se faz online com acompanhamento de noticiário, na época era feita com
operativos no local...então dependendo do país e do perfil da agência, era uma
boa oportunidade pra viajar o mundo as custas do governo entregando relatórios
com certa regularidade. Somando isso com a imagem de Brasil no mundo nessa época (auge da Carmen Miranda), o que não devia faltar era espião por aqui.



E sobre o serviço secreto Czech, diferente da KGB, eles não
tinham um bom trackrecord de eficiência. Até tentei achar algum relato sobre (5
min no Google): Depois que a embaixada soviética na Australia foi fechada, a
estrutura czech pode ter sido usada como fachada pra KGB, mas até isso é bem
incerto.



Czechoslovakian espionage down under
during the early years of the Cold War | Radio Prague International



Enfim, o filme promete bem mais do que entrega, e o que entrega
é questionável, de qualquer forma a experiência foi válida. 

Dado que no Brasil é
comum ver debates sem sentido, nos quais os debatedores não entendem ou sequer
conhecem as referências alheias. Porém o debate coletivo só avança produtivamente se você é capaz de manusear os argumentos com
os quais o outro está acostumado.

Fica mais fácil direcionar
a discussão de acordo com os seus interesses...Olha essa indústria de thinktank
nos EUA, só existe para existe para subsidiar o lobby e a imprensa com argumentos
que se adequem a um determinado grupo de interesses, mas ainda é valida já que
subsidia um espaço intermediário entre o acadêmico e o corporativo.



Essa coisa de saber como alguém pensa, para guiar a discussão
de acordo com os seus interesses dentro dos argumentos que o interlocutor está
acostumado a usar é crucial, para guiar a narrativa e/ou o debate midiático.



A manipulação de argumentos me soa mais produtiva que essa coisa “meu autor é melhor que
o seu”, que marca o debate econômico brasileiro.



Sobre a minha pergunta inicial quanto ao SNI acabei num
texto do CPDOC (Mônica Kornis), na sequência alguns pontos interessantes:



‘’ O SNI era uma peça do sistema nacional de
informações, integrado ainda pelos sistemas setoriais de informações dos
ministérios civis e militares e pelo sistema de informações estratégicas
militares. As forças armadas possuíam também seus serviços de informações, a
saber, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), o Centro de Informações do
Exército (Ciex) e o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA
). Além destes, dedicavam-se aos serviços de
informações os departamentos de ordem política e social das secretarias de
Segurança dos estados e do Departamento de Polícia Federal. A dotação
orçamentária do SNI para o ano de 1981 teria sido de cerca de setecentos
milhões de cruzeiros, incluídas as despesas sigilosas.
’’



‘’setor
internacional da Seção de Análise de Informações
ganhou importância a partir de 1973,
quando o governo federal constatou que o fluxo normal de relatórios das
embaixadas não foi suficiente para suprir o Executivo de dados que permitissem
avaliar a extensão do dano causado pela crise
do preço do petróleo,
 que para o Brasil representou um aumento de
dez vezes, provocando um grande impacto na economia do país.
 Visando
sanar esta deficiência, o SNI arregimentou um seleto corpo de elite, o dos
agentes especiais — entre os quais havia militares, economistas, psicólogos,
analistas de sistemas, engenheiros e diplomatas
— destinado a atuar
principalmente no exterior, cumprindo missões sempre secreta
s. Entre 1982 e 1988 havia agentes especiais
atuando em Paris, Roma, Bonn, Londres, Washington, Bagdá, Trípoli, Riad,
Montevidéu, Buenos Aires, Paramaribo e em cidades-sede de organismos
internacionais, como Bruxelas (OTAN), Genebra (várias agências da ONU) ou Viena
(Agência Internacional de Energia Atômica). Todos eles eram fundamentais, a
rigor, para vários programas estratégicos brasileiros do tipo
 levado
em diante pelo Ministério da Marinha
, sob grossa capa de sigilo, e que deu ao país o acesso ao
ciclo nuclear completo com tecnologia própria, independente.
Contudo, a vida funcional da equipe permanece nebulosa e
em 1990,
com a
criação da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no governo de Fernando
Collor de Melo (1990-1992), desapareceu a relação de nomes, ou mesmo o código
que identificava entre os funcionários os integrantes do grupo
de
agentes especiais.’’



 “A resistência do órgão
em colaborar com iniciativas conduzidas por outros ministérios contribuiu para
reforçar a ideia de que o SNI representava uma parte significativa do
chamado “entulho do autoritarismo”
herdado do ciclo militar. Neste sentido,
destaca-se a aprovação da Lei do Direito de Acesso à Informação ou o 
Habeas Data,
que proibia as autoridades de recusar qualquer informação pública aos
interessados, iniciativa conduzida pelo ministro da Justiça Fernando Lyra. 
O instrumento jurídico que garante o acesso a
informações pessoais constantes de banco de dados ou registros de entidades
governamentais ou privadas foi assegurado pela promulgação da Constituição de
1988 pelo seu artigo 5º. Contudo, segundo a imprensa,
 
o SNI teria preparado um arquivo
paralelo que teria sido transferido para o Centro de Informações do Exército
(Ciex), numa tentativa de evitar que determinadas informações viessem a
conhecimento público.



‘’Durante o governo Sarney foi
criado ainda o Fundo Especial do Serviço Nacional de Informações
, regido por parte da legislação que havia criado
o Fundo do Exército em 1965. Esta decisão que fortalecia o SNI determinava que 
o
fundo seria administrado pelo ministro do órgão e que os seus recursos poderiam
ser aplicados no mercado financeiro
.’’



‘’... o quadro de funcionários do SNI era composto de civis e militares
na proporção de 62% de civis, 26% de militares da ativa e 12% de militares da
reserva. Esses funcionários dividiam-se, entre outras categorias, em
especialistas em movimento sindical, especialistas em movimento estudantil e
especialistas em movimentos da Igreja
...''




Perguntas:



O imaginário popular sobre o SNI reflete o que era o SNI ou
se confunde com outras instituições tipo Polícia do exército? Se os dados são
reais, reflete uma instituição civil nos moldes da inteligência americana.

Brasil sendo Brasil quando as pessoas não sabiam quem culpar,se atribuia isso ao SNI, ou essas atribuições eram fundamentadas?



Quem treinou o SNI? O Brasil, pela palestra "The CIA and the CovertCold War" - Lecture by David Robarge - YouTube não aparece no roll de “cover ops” do período reconhecidos
pela CIA [declassified], e pelo menos no papel há algumas similaridades na
estrutura. Talvez oriundas de outras fontes como intercâmbio entre escolas
militares, ou cooperação com outros setores do governo americano.



Nessa pergunta específica, eu checaria o histórico de pessoas chave na formação do SNI...descobrir quem são
essas pessoas, e tentar achar os currículos é uma outra confusão.



Nomes ligados ao
SNI, tem vários, saber quais são de fato relevantes é outra questão.

Update: Pelos depoimentos da Comissão da Verdade, dá pra inferir que embora tenha havido intel externa a nível de SNI(alto oficialato), é mais provavel que a cultura na base da coleta de informações feita pelo exército no CIE ( Centro de Inteligência do Exército)(principalmente praças e médio oficialato) tenha tido o modelo de p2 da PM e policias locais em geral como referência principal principalmente PMERJ, PMESP e as civis.Isso já vinha como resquício das estruturas de intel do governo Vargas (DOPS). A confiabilidade das informações obtidas nesse modelo, tende a ser consideravelmente frágil, e dá margem ao quadro da casa de  Petropólis...e ainda nos dias de hoje, qualquer edição do Jornal O São Gonçalo. 

 

 Depoimento que aborda as estruturas de intel BRs  Pro que eu tava procurando as primeiras 15 pags são chave. (texto com meus destaques )

Nos depoimentos tem relatos de circulação de relatórios de intel  originários de US, UK e Israel, mas é uma menção breve com tom de curiosidade distante. Acontece em 13m30s

Depoimento do coronel Paulo Malhães, ex-agente do CIE - parte 1/2 - YouTube

Detalhe interessante pra pensar o Brasil, é que a PMERJ é a primeira força a ser estabelecida,na guerra do Paraguai os quadros experientes vinham das PMs,e através delas se organizou o Corpos de Voluntários e complementação dos efetivos do Exército.

Esse modelo de intel desenvolvimento pro crime urbano BR acabou exportado pela América Latina, talvez a atuação brasileira seja até o missing point pro covert da CIA que falhou no Chile. "The CIA and the CovertCold War" - Lecture by David Robarge - YouTube 

 ''Marival Chaves Dias do Canto – Além do Fleury, o DOI, digamos assim, adquiriu experiência no embate do dia a dia, não há dúvida nenhuma quanto a isso aí. Mas ele teve o embasamento da Polícia Civil de São Paulo, através especialmente de Fleury. Fleury, Tuma, e todo esse pessoal aí, né? Pessoal que dirigiu esse tipo de trabalho lá. Infiltrado, por exemplo, como eu disse, vem do Fleury, vem da figura dele, ele é que instituiu isso aí voltado para o crime comum e depois aproveitou para repressão política.''




O SNI nasceu errado tentado botar no mesmo guarda chuva Intel
interna externa? São arcabouços regulatórios bem diferentes.

Update:Considerando a resposta anterior, se torna irrelevante. 



O que aconteceu com esse fundo?


Perguntas pra além desse texto:

O sistema de arapongas voluntários, me parece propenso a dar a problema.

As informações geradas no sistema eram confiáveis?Qual era o processo e o rigor da verificação?

Update: Conclusão

Esquerda e direita questionam se existia ameaça comunista... pelo operacional da época em que todo mundo era araponga, bastava uma richa de vizinhos pra alguém virar alvo. Verificação, ou qualquer checks and balances na base de arapongas inexistia. 

Parece mais uma questão de ser enquadrado como 'subversivo', e isso tinha um significado variável.

Minha ideia inicial era procurar um racional preciso, pra justificar qualquer contrainteligencia dos militares. Tipo os tubos de aluminio e o yellow cake no lançe do Iraq (da Valerie Plame)...mas pelos argumentos vagos de uma ideológia distante que o Malhães demonstra pra se justificar..essa preocupação não existia.Logo pura irracionalidade.

Sobre o SNI,algum grau de conexão externa houve e se reflete na descrição da ESNI(Escola Nacional de Intel), a proposta do SNI era boa, mas estava sendo alimentada com informação ruim da base de arapongas em cada força. Deve ter gerado uma grana pra IBM ou Bell Labs.

No mais, um sistema de intel ruim, gerou um ciclo retroalimentável de resistência.

E tem essa coisa coisa do alto oficialato ver uma coisa, e os praças fazerem outra. Outro ponto é que Marinha(CENIMAR) e FAB(CISA)  não adotavam a mesma metodológia ''ciêntifica''/operacional do CIE,o que não necessariamente lhes atribuí maior grau de confiabilidade no information gathering, de todo modo o CIE parece ser a peça central na engrenagem de intel do periodo.

Possiveis contrapontos: 

Pode ser que em alguma ocasião especifica tenha havido um racional bom, mas pela estrutura frágil da base de intel gathering, isso parece mais excessão do que regra. 

Seria interesante checar nas origens do DOPS alguma conexão com o FBI de J. Edgar Hoover, mas isso remete a ditadura Varguista. O FBI teve um histórico confuso também, perseguindo comunistas internamente, e atua como polícia. O elo poderia ser FBI-DOPS ou FBI-Polícias locais-DOPS.

Entretanto acho mais razoável supor (carece de verficação) que a origem do DOPS(1924) remeta a algum modelo metodológico europeu. Fora que entre 1924 e 1964 muitos ajustes metológicos podem ter sido desenvolvido internamente.

UPDATE 21-05-21

Eu dei uma pausa nessa
coisa das operações de inteligência no Brasil, pra lidar com coisas mais
distantes e tranquilas que possam futuramente me servir com proxy pra entender melhor
a confusão das organizações de segurança no Brasil; tipo a relação da Mossad
com a intel Iraniana...tranquilíssimo. No mais o quadro de desigualdade economica é parecido, e na media, é mais fácil assumir uma perspectiva de observador externo.



Mas nesse meio
tempo o Jones Manoel trouxe um texto que cobre alguns buracos presentes nessa minha
discussão: França.



Eu sempre achei estranho
o papel dos EUA na ditadura brasileira, até porque no que precede a década de
60 os links da elite brasileira com os EUA são quase inexistentes. Existem
alguns, mas na maioria das vezes tem um intermédio de UK.



Enfim, a figura da
França, fecha um gap na minha pesquisa quanto ao perfil de formação do
generalato, o que provavelmente se deu através da USP instituição com a qual
militarismo brasileiro tem links interessantes, e legítimos até os dias de hoje
em projetos como Aramar e a própria relação da Politécnica com a Marinha. No
mais sigo com a perspectiva de que o problema maior na ditadura seria a base
das instituições, na tradição das policias brasileiras que vai do coronéis aos
fascismo dos anos 30 e chega aos dias de hoje com influências americanas e
francesas.



 



Nesse entretempotambém fiz uma pesquisa sobre a ditadura no chile que segue aqui em texto e slides: https://www.dropbox.com/s/u4ib264qbylegb0/CHILE.pdf?dl=0



O texto citado pelo Jones Manoel Imperialismo e Grupos Armados no Brasil - Revista Opera e uma versão com meus destaques 

O ponto do General Kruel, é interessante, mas não acredito que ele seja significativo,já que a próximidade com as estruturas fascistas varguistas, e mescmo com a França me soa mais intensa.Porém o FBI da década de 40 tem suas próprias questóes, mesmo dentro dos EUA.No mais, o ponto de partida que eu adoto é o Kennedy com o Aliança para o Progresso, existe o Paraguai e Vargas antes disso, mas já é uma outra linha da condução de politíca externa nos EUA, que responde mais ao fascismo do que a Guerra Fria. 

Quanto a PM, dá pra mapear as origens dela e seu papel na base do militarismo brasileiro olhando o papel que essas instituições desempenham durante a Guerra do Paraguai. 


Thursday, April 15, 2021

Compilando algumas referências em inteligência

Entre edits e comentários, o outro post já estava virando uma
colcha de retalhos capaz de travar o edge na edição, então vou usar esse espaço
pra compilar alguns links para palestras de ex e atuais operativos de agencias de
intel, principalmente americanas, mas pelo mundo também. A maior parte já tava no r/cecia mas queria comentar um pouco cada um.



A CIA na sua face mais visível é um espécie de bigthree de estratégia que
funciona, e tem uma proposta de valor mais clara. Eu nem fui muito a fundo no
FOIA (Open Information Act), mas de modo geral até o perfil dos relatórios é razoavelmente
parecido no sentido de ter linguagem clara e objetiva, pra um conteúdo que as
vezes é bem acadêmico, ou operacional.



Fuçando pelo FOIA, eu até tinha achado um guidance para o Presidential
Daily Briefing que era bem direto em estabelecer que o foco é objetividade. Se
der para colocar a informação em um paragrafo é perfeito. Fazendo o contraponto com Brasil em academia/órgão público os documentos são ilegíveis: voltas e mais
voltas sem chegar a lugar algum. Acho que o servidor médio brasileiro, pensa
que os salários da administração pública são mais justificáveis em 10 páginas,
do que em duas bem escritas, sem falar no pessoal do ‘’data vênia’’.



Essa objetividade faz com que o acervo público(FOIA), seja
uma fonte de partida razoável para pesquisa histórica, mas essa mesma objetividade
também é limitadora.



O objetivo é gerar informação, que seja acessível e possa
ser usada na tomada de decisão. Decisão que pode ser da presidência, de algum
comandante militar ou do congresso. É incerto quão operacional/paramilitar a
estrutura é, mas na prática não tem tanta necessidade para que a operação seja
paramilitar, até porque ela opera dentro do DoD e com o DoD. Logo já tem Marines
e a BlackWater(atual Academy) pra ser esse braço mais operacional.



Estruturas militares em essência são interessantes, até como
elemento de transição social, porque elas são diversas, combinam Blue Collar,
White Collar e Acadêmicos (que seria “White collar”, mas nem tanto). Oficialmente
a operação da CIA é civil, mas opera bem próximo de Militares, e tem todo um
sistema para recrutar veteranos.



Em termos de cultura organizacional, é bem interessante, e é
ponto em comum pra todas as palestras que as pessoas gostam do que fazem,
apesar de nem sempre concordarem; nas palestras, duas pessoas vão estar
falando sobre isso.



Traduzindo isso em termos de concurseiro: seria algo entre DPF
e Itamaraty, mas a operação é diversa então tem vários “meio termo”.



US



Espionageand Intelligence - YouTube – Ex NSA, perfil acadêmico em computação, nessa
palestra o ponto alto são as memórias nostálgicas da guerra fria, e do jogo de
espiões com os russos.



"The CIA and the Covert Cold
War" - Lecture by David Robarge - YouTube
 
– Perfil acadêmico em humanidades/história. A
palestra é bem focada covert operations, que seria uma atuação mais ativa, na
construção de narrativa de externa, interferência em eleição, pelo perfil acadêmico
ele faz mais uma análise de experiências (revisão de literatura) e limitações desse
tipo de operação.



HUManINTelligence in the Digital Age: Global Agenda 2012 - YouTube – Ele tem um
perfil de undercover operacional, talvez umas das palestras mais interessantes.
Fala sobre as limitações que o modelo tradicional de undercover com documentos
falsos, enfrenta no cenário de hoje, aborda que embora seja possível atuar com
um operativo mais mirabolante meio Argo (2012), na maioria das vezes não é
viável no budget de operações menos centrais. Aborda o ponto que se transita de
identidades falsas para um cenário em que o operativo se expõe mais.



ValeriePlame - YouTube  e A Conversation with ValeriePlame Wilson - YouTube Personagem interessante, que oficialmente não existe
até que o Dick Cheney por richa política explanar o undercover dela. No geral
ela fala bastante do treinamento, dinâmicas confusas pós 2001, como Afeganistão
virou Iraque porque era mais fácil vender essa narrativa. (as duas palestras
são basicamente o mesmo, em algum nível deve ter um pre-approved mas o Q&A é
diferente).

Karen Kwiatkowski, Ret. Pentagon Analyst: Media's Countdown to War in Iraq - YouTube Outra que questionou os desenvolvimentos no governo Cheney-Bush.



CatchMe If You Can | Frank Abagnale | Talks at Google - YouTube O foco da palestra
é mais a vida dele, mas é interessante, e rendeu um bom filme.

Ponto adicional sobre as estruturas da Intel americana, é que a cultura de pesquisa acadêmica do antigo OSRD (Office of scientific Research and Development), se distribuiu entre entre diversas agencias na US Navy, USAF e algumas mais civis hoje com forte atuação no Vale do Silício como a IARPA, mas de modo geral tudo sob o guarda chuva do Office of the director of national intelligence (As vezes DNI ou ODNI).

E também alguns think tanks históricamente mais vinculados ao Pentágono como o Rand Corp que por exemplo abrigou o John Nash no desenvolvimento da Teoria dos Jogos,e todo o lance do dilema do prisioneiro.

The Nobel Prize and RAND | RAND Nesse link um resuminho dos nobelados com passagem por lá



UK



SchoolReport with Dame Stella Rimington - YouTube Outra conversa com foco em história de vida, mas ela entra
em ser mulher numa operação de intel, como o jornalismo de tabloídes britânico explora
isso.



Australia



ASIODirector-General of Security Duncan Lewis | Meet The CEO #36 - YouTube É um
evento meio corporativo, a conversa não chega em nada mais que seja interessante,
mas tem umas discussões de formação militar.



China



Até aqui tudo que vi sobre china é bem enviesado, e a discussão
é bem perdida. Não existe concesso claro sobre quão organizada ou amadora é a
operação de intel chinesa. E por mais que eu venha tentado entender pelo menos Pinyin,
ainda não tenho acesso a fontes primárias.



ChineseCommunist Espionage: An Intelligence Primer Book Discussion - YouTube Aqui
é um esforço até interessante de colocar como o MSS se estrutura, junto com várias
operações de intel que hora competem entre si e outrora se complementam. Eles
também tentam contextualizar isso numa China com tradição milenar. No r/cecia
até tem outros tentado cobrir esse tema, mas esse é o único que é razoável. No Q&A esse é o caso mencionado How China's own spy Wang Liqiang
denounced the CCP and defected to Australia (theage.com.au)
.



 



What We Know About China's Spy
Agency - YouTube
– Um resuminho da Bloomberg



 



DPRK



Os mesmos problemas que tenho com China, para arrumar fontes.
Porém muito de intel externa deles, ao que parece é mais financeiro até porque
o desafio é trazer dólares para o país.



NorthKorea - All the dictator's men | DW Documentary - YouTube Eu gosto bastante
desses docs da DW. Aliás eu até fiquei surpreso no r/AskaGerman quando descobri
que não existe DW internamente na Alemanha, pelo que consegui entender é uma mídia
governamental de divulgação externa, e é bem-produzida.

Israel

Muito do poderio israelense vem de controlar a visão americana sobre a região, e via lobby exercer uma espécie de 'covert op' dentro dos EUA no acesso direto ao congresso. Como o lobby não é 'secreto', não acho que exista essa leitura oficialmente dentro dos EUA, mas na pratica isso leva aos mesmo resultado que a CIA obtem com 'coverts ops' mais mirabolantes pelo mundo, e bom... democrata/republicano...todo mundo é pró Israel.

Tentando entender como outros aliados americanos na região poderiam oferecer um contraponto a narrativa israelense...é bem confuso Why the CIA doesn't spy on the UAE | Reuters , mas sumarizando:a impressão é que enquanto Israel, focou na construção de relação com a CIA via Mossad inicial,e depois expandiu para o lobby,  UAE e Saudi Arabia tem apostado em lobby direto com o congresso.Isso pode gerar desdobramentos interessantes em algum momento. 

Os saudis tem muito caminho pela frente no que se refere a construção e projeção de soft power na Casa Branca/Congresso, mas o UAE tá bem avançado e parecer ter pretenção militar.

Michael Bar-Zohar with Ethan Bronner: Inside the Israeli Special Forces - YouTube

Brasil

André Soares relembraoperações da ABIN | Identidade Geral - YouTube Para além de concurseiros
discutindo uma cultura ultrapassada na Abin, que reflete o quadro das FAs no Brasil
esse cara ainda questiona a capacidade técnica da agência. Ponto interessante é
que a DPF parece ter se desenvolvido bem em termos de cultura, pelo que é comum
nas falas dos concurseiros, mas isso foge ao que é o foco aqui.



Talvez volte para atualizar esse post com Mossad, BNB
(Alemanha), FIS (Suíça) e tem um canadense também sem contar os outros britânicos.
Sobre Rússia eu não acho que vou conseguir material, e é um submundo próprio no
sentido que na média dá para achar traços culturais comuns entre os demais
serviços, mas Rússia tem várias peculiaridades, e não acha muito paralelo nem
com os outros comunistas para além da União Soviética.


Sunday, April 11, 2021

Serviços de inteligência, controle de narrativa e a Lava Jato

 


Uma coisa interessante sobre economia, é que não é incomum que
aquilo que se convêm chamar de “livre mercado” seja na verdade uma dimensão muito
específica de uma operação de inteligência de escala maior. Isso pode ser desde
um projeto de pesquisa sendo financiado por algo como o Human Ecology Fund (uma
fachada da CIA na Guerra fria) , ou o Kaiser-​Wilhelm-Institute – KWI (que suportou
o Mengele em algumas pesquisas mais assustadoras do período, e era talvez uma
fachada da SS). 

Aparentemente é financiamento privado de pesquisa mas ainda hoje num pós-guerra fria quando o uso de fachadas diminuiu, o financiamento privado por vezes na verdade é um contractor de algum governo. Na medida em que financiar desenvolvimento tecnológico sem governo,é meio fora da realidade, até o Starlink (relativamente autonomo de governo) se beneficia de tecnológia desenvolvida no contexto do DoD. 

Skeletons in the Closet of German Science | Germany| News and in-depth reporting from Berlin and beyond | DW | 18.05.2005

Unwitting CIA Anthropologist Collaborators: MK-Ultra, Human Ecology, and Buying a Piece of Anthropology | Cold War Anthropology: The CIA, the Pentagon, and the Growth of Dual Use Anthropology | Books Gateway | Duke University Press (dukeupress.edu)

Interessante é que nos dois casos  de financiamento de pesquisa, e em muitos outros as
conexões são tão indiretas entre a estratégia nacional maior, e a ponta final; que as pessoas envolvidas costumam sequer ter ciência do que de fato está acontecendo,
e qual sua função na engrenagem maior da qual fazem parte. Ou no mínimo não tem ciência do racional do por trás do que estão fazendo, e isso se traduz com o tempo em relatos confusos tipo o do John Perkins em “Economic Hitman”, sendo justo, tem algum tempo
que li o livro – então é bem por alto. No livro ele se descreve como um
consultor envolvido com projetos de construção pelo oriente médio, toda a
narrativa é bem intricada, talvez uma consequência de um trabalho em que o cara
cumpre missões, sem saber exatamente os “porquês”.

No geral a narrativa do Perkins gira em torno de contratos com construtoras americanas via embaixada no oriente médio...enfim é bem parecido com o que se tenta atribuir ao One Belt, one road hoje em dia.

E esse tipo de personagem, com histórias intricadas e meio
surreais, é uma figura relativamente comum quando você começa a pesquisar sobre
estruturas de inteligência e a operacionalização de estratégias de
inteligência.  

Talvez  seja daí que venha muito do que é o imaginário
em tornos das agências de inteligência hoje em dia.



Na sequencia uma perspectiva inicial sobre os pontos que o Le monde trouxe ao debate recentemente, colocando Lava Jato como peça em uma estratégia maior remontando aos tempos do Dick Cheney na Casa Branca.

"De um lado tem um set de interesses bem estruturados...do outro um idealismo perdido do judiciário BR, que acaba sendo instrumentalizado num vazio de coordenação da inteligência local...

Aliás a operacionalização de Inteligência no Brasil é
historicamente  problemática, já que por
tradição ela se limita a olhar para questões internas, e agrega pouco ou nenhum
valor num contexto internacional.

Na prática é como se serviços desde o SNI até a atual ABIN
tenham sido muito bons numa dinâmica de FBI (inteligência interna), mas por
aqui nunca houve nada de Intel externa como a CIA.

Nesse modelo essas estruturas locais acabam lidando com
problemas parecidos  aos de suas
equivalentes americanas, o próprio FBI tem uma história conturbada em relação a
perseguição de 'comunistas' dentro dos EUA, no mesmo período que o SNI
implantava uma estratégia parecida no Brasil.

Mas pela propria dinâmica das estruturas de Intel americanas
isso acaba contrabalanceado por uma defesa dos interesses nacionais vindas da
CIA e do DoD( que em termos Intel tem alguma independência).

Nessa discussão da Le monde, tem muita coisa que é do jogo,
mas pela inexistência de estruturas de intel o Brasil não soube se
proteger...daí procuradores cheios de boa vontade, e na busca por um
greencard/F1 são instrumentalizados para destruir a Odebrecht que em seu pico
foi um maiores empregadores do Brasil...é tipo destruir a
Boeing/Teledyne/Raytheon.... por fazer lobby.

O Brasil deveria ter o operacionalizado o Itamaraty para
Intel externa, enquanto a ABIN...não se sabe para que serve, mas ao que tudo
indica poderia ser internalizada na PF sem maiores prejuízos.

Poderia numa operação de contra inteligência relativamente
simples ter contornado muitos dos problemas que a Lava Jato gerou e até mais
recentemente ter evitado muitos fiascos gratuitos aos quais esse governo tem se
exposto.

Intel interna e externa, são apenas algumas dimensões nas
quais o Brasil é carente, um dos maiores problemas mesmo é o total vazio que
ocorre quando se fala em cyber.

Por outro lado  pelas
falas do generalato contextualizadas pelos currículos da ESG/ECEME, que parecem presos na década de 60, é difícil ver um quadro de mudança. 

A Marinha e a Fab tem um perfil mais técnico (parte da formação acontece em instituições civis), mas por hora
carecem de direcionamento...interessante que alguns quadros até já possuem o
background técnico que seria necessário, mas não encontram espaço dentro das
forças.

 

“Lava Jato”, the Brazilian trap (lemonde.fr)


   Originalmente no Facebook Daniel Rodrigues Parente | Facebook "





























Conforme menciono no post do FB as estruturas de inteligência, historicamente
tem cumprido um papel confuso no Brasil. Mas se você olhar as questões internas
dos EUA nas décadas de 40- 60, que envolvem desde perseguição de jornalistas e
cineastas (na terra do tio Sam Disney Link To the F.B.I. And Hoover Is Disclosed - The New York Times (nytimes.com)), começa a ficar claro que direta ou indiretamente
por aqui o exército importou um problema que talvez nem existisse (o foco não é
se existia ou não, mas como o golpe de 64 se encaixava na estratégia global
americana do período e refletia questões internas dos EUA
)
, mas no final das contas a manutenção do factoide e o
fato do Brasil não ser mais um foco de preocupação para os EUA na década de 60...era
interessante pra embaixada e pra estratégia global e até interna dos EUA em vigor naquele período [o texto sobre o W Disney dá uma boa visão sobre a dinâmica interna do FBI nos EUA]

Em geral tanto a esquerda quanto a direita brasileira,
cinicamente ignoram a confusão global que era o mundo em 1964, e como o Brasil era peça secundária.

É interessante olhar brief presidencial americano, pra contextualizar o quadro global do momento.

Até pra contextualizar como a discussão da Guerra Fria aparecia na politica interna americana daquele período, e o Golpe no Brasil dividia espaço com a guerra do Vietnã em termos de atenção politica e midiática. Fora que era ano de eleição.

CENTRAL INTELLIGENCE BULLETIN | CIA FOIA (foia.cia.gov) para 1 de abril 1964
CENTRAL INTELLIGENCE BULLETIN | CIA FOIA (foia.cia.gov) para 2 de abril 1964
 
Nessas idas e vindas, o que quero estabelecer é que até recentemente
muito da execução da estratégia de inteligência era em alguma medida se
esconder jogando o enfoque em questões mais secundárias, do tipo se “existia ou não uma
ameaça comunista no Brasil em 1964?”.. quando na verdade o que importava era o
neutralizar o risco local, para focar na estratégia global e em alguma medida gerar conteúdo pra propaganda politica interna nos EUA.

Até que ponto a construção desse argumento tem origem autonoma no SNI, na embaixada ou propria mídia local no periodo? Carece de uma contextualização histórica, mas o Jango já vinha enfraquecido politicamente.



Com isso em mente dá até pra começar a visualizar, que o
problema ai é mais uma questão de que na época os militares brasileiros assumiram que “sim existia uma ameaça local”, não por de fato haver uma ameaça,
mas sim pelo que eles ganhariam seja na forma de poder, projeção midiática...
e
sendo militares pelo hype em torno da interação com a inteligência americana. Não importa o que é verdade, mas o que a narrativa que eles assumiam lhes dava. 


Essa
dimensão mais humana por trás dos grandes eventos é interessante, porque até hoje
essa disposição pra cooperar tem um papel importante no aliciamento de ativos
pelas agências de intel (principalmente americanas[ palestra acima dá uma boa perspectiva]) Policing the Past: The CIAand the Landscape of Secrecy - Richard Aldrich - YouTube...

Transitando um pouco entre passado e passado recente, pra por em perspectiva até que ponto houve intel externa na lava jato.

Enfim o
caso da Lava Jato descrito pela Le Monde é interessante porque você tem um
judiciário que idealiza o sistema americano, com isso uma disposição pra
cooperar, fruto de um soft power quase natural.



Em última instância qualquer impressão positiva, é
soft power
, isso gera uma abertura com efeitos econômicos interessantes. Seja na
sua disposição de pagar para estudar nos EUA, - e pelo sistema de vistos atual, isso é pura transferência de renda de qualquer país para os EUA -  ou mesmo quando
um país se alinha a outro por uma afinidade cultural, que não faz sentido
economicamente.

Hoje é interessante  falar disso porque você viu o brasil, perseguindo um alinhamento econômico com os EUA, que
girava em torno de um alinhamento cultural "soft power" (todo mundo viu os mesmos filmes, estudou nas mesmas universidades), mas no final das contas apesar de toda
a tradição canavieira do interior paulista o Brasil ia acabar importando etanol
americano feito à base de milho.Brasil renova tarifa zero para importar 187,5 milhões de litros de etanol dos EUA até dezembro | Política | G1 (globo.com)



Fala-se bastante em soft power, mas não existe uma preocupação
clara em definir soft power, quanto ele rende ou mesmo quanto ele custa. 

Quanto o brand de Brasil perdeu em valor, e quanto a Coréia do Sul ganhou nos últimos anos? Essa comparação é interessante porque a produção e exportação de novelas [ e cultura de modo geral] é ponto importante nos dois países,mas isso tem se desenvolvido de modo mais eficiente no modelo de novelas curtas Sul coreano, que formou uma indústria e se profissionalizou [no Brasil tem a Globo e quase nada fora dela].



De modo geral, até para retomar o ponto principal: a
inexistência de uma estratégia de inteligência externa custou caro para o
Brasil, basta pensar que no seu pico todas as construtoras arrasadas pela lava
jato figuravam facilmente nos maiores empregadores do país. E, bom, ainda que
em alguma medida seja legítima a contenção de corrupção, faltou ao Brasil uma
operação de contra-inteligência externa que conseguisse colocar em perspectiva até
que ponto essa caça aos corruptos não estava sendo usada numa estratégia maior.

Chinese Methods for Industrial Espionage - YouTube Nessa questão da estratégia maior tem uma perspectiva do operacional disso no contexto da China a partir de 13m até 30m.

Essa questão de China é interessante porque a operação de Intel desde o fundamento,na diretiva do partido, tem foco na geração de valor economico, mas quando vocé olha falas de operativos do UK/US o foco é em defesa e segurança nacional e a dimensão de geração de empregos só aparece quando discussão chega ao congresso, com o lobby em torno das fábricas e de empregos. Enfim são diferentes modos de pensar o uso de intel.

A panel on espionage - The New Yorker Festival - YouTube Chamaria atenção pras falas da Stella( ex diretora do MI5)que reflete essa questão de segurança nacional, e UK é um arcabouço regulatório mais replicavel. 

Pensando num possivel desenvolvimento no Brasil o modelo de intel Chines com foco economico faria mais sentido por aqui.

No caso americano ,por eles já controlarem o sistema financeiro ( ver a sanção que o DoJ aplicaria na Odebrecht (conforme texto da Le Monde) , e vem aplicando em executivos chineses) isso dá margem para as estruturas tradicionais de intel ignorarem essa dimensão, já que o próprio DoJ tem capacidade de executar isso

 How Donald Trump has targeted Chinese companies with executive orders, sanctions | South China Morning Post (scmp.com) - Descreve as sanções à empresas chinesas sob Trump. o Biden tem focando o uso das sanções em indivíduos (caso da Carrie Lam Cheng Yuet-ngor citado nesse texto), geralmente diretores dessas mesmas empresas (o que em temos de discurso, é mais administravel do que a perseguição estrita que o Trump vinha tocando).



Os países precisam de estruturas que lhes permitam entender por
que as dinâmicas globais estão se desenvolvendo de determinado modo, quais os
sets de interesses envolvidos, até para que possam direcionar as discussões num
sentido que lhes seja favorável. E históricamente a inteligência externa tem atuado nesses gaps.



É fácil hoje para o Brasil e para França (afinal o Sarkozy
também tá preso hoje em dia[acho que por uns motivos mais aleatórios]) quererem
buscar um inimigo externo, mas tem muita coisa no texto da Le Monde que é natural ao jogo político
entre nações, mas para as quais o Brasil não estava preparado
, afinal pra além da questão quanto a se
existia ou não uma coordenação de intel externa no desenrolar da Lava Jato... o
fato é que a estratégia só avançou porque encontrou espaço numa galera mais
jovem do judiciário, e ao que parece não
tinha ninguém pra colocar isso na perspectiva de que os EUA vinha numa
estratégia maior de guerra ao terror, e proteção as empresas americanas desde 2001
e do governo
Bush/Cheney.


Ponto interessante que a Le Monde deixa de fora, que talvez tenha tido um peso importante é a relação que o Lula vinha desenvolvendo com o Ahmadinejad em 2009. Pelo curso que a história tomou de lá pra cá, talvez o peso dessa interação tenha sido maior do que a se poderia mensurar na época. Fica um questionamento se GSI/ABIN/ITAMARATY tinham alguma estratégia nessa relação naquela época?

Lula recebe Ahmadinejad em meio a polêmica - BBC News Brasil 

Com mais detalhes do governo Bush/Cheney se tornando públicos nos últimos anos, fica claro que pelo background de DoD-Halliburton o Cheney era bem ativo na operacionalização de intel nesse periodo, com o foco em oriente médio.

 


Por mais que eu adore Night Train to Munich(1940), The
Ambassador(Morris West)
... uma parte importante do trabalho de intel hoje é
o controle da narrativa de modo a gerar esses efeitos soft power, seja a CIA
negociando com editor de revista como vai ser a cobertura dada ao Venture Capital
deles (In-q-tel) Gilman Louie: In-Q-Tel andFunding Startups for the Government - YouTube, ou ainda  promovendo
discussões internas em relação a como eles aparecem em hollywood e decidindo
assumir uma posição mais cooperativa[Palestra no primeiro video],
essas são hoje as faces mais visiveis ( e razoavelmente bem aceitas) das operações de intel, em contraponto ao modelo mais 007. [o controle da narrativa]

Em outros termos:é mais Vice (2018) que qualquer 007. Em termos de conduzir o debate e a narrativa de modo mais palatável. 



É claro que as interações CIA-Mossad para coordenar eventos no Iran ainda estão aí, mas sobre essas ninguém fala
publicamente. 

IranianNuclear Scientist Mohsen Fakhrizadeh Killed By 'Terrorists,' Iran Says : NPR

Qasem Soleimani: US kills top Iranian general in Baghdad air strike - BBC News



De modo geral o problema do Brasil não é a interferência
americana, mas sim o fato do Brasil não estar preparado para lidar com essa
interferência.

Em outras palavras, num exemplo mais direto, por quê e como  o DoD consegue defender publicamente um
contrato de defesa que é irracional (Nuclear disarmers can’t forget the communities that rely on military spending - Bulletin of the Atomic Scientists (thebulletin.org)) enquanto aqui no Brasil... 

o
que resta da indústria de defesa emprega muito pouca gente (o que resta da Odebrecht
Defesa – Atual SIATT – emprega por volta de 100 pessoas...em EUA qualquer
contractor médio deve gerar pelo menos uns 10mil empregos)
 

 ...quando isso
chega no debate público tudo caminha para conservadorismo fiscal?! Bom, muito
disso passa pelo controle da narrativa no debate público, que no caso brasileiro do exemplo inexiste , mas o pessoal da Lava Jato soube usar isso.

SIATT na TV Vanguarda - YouTube

Defense Primer: Department of Defense Contractors (fas.org) 

O UK em termos de proporção ainda é um pouco menor,em relação ao US mas esse relatório dá uma perspectiva interessante do setor por lá. E é mas fácil achar dados consolidados por lá

Defence and Security Industrial Strategy (publishing.service.gov.uk) 

Essa estrutura dos contractors, é interessante porque mesmo extrapolando o DoD (algumas mais especificas acabam sobre outros departamentos como o DoJ) umas boas parcelas do budget dos serviços de Inteligência, por baixo uns 30% acaba em intel outsourcing logo acaba sendo mais verba do budget para defesa/complexo industrial militar por fora do DoD.

(1) Are the CIA, DIA, NSA, etc. under the Department of Defense, or under some non-military governmental agency? - Quora

 

Home (intel.gov) --Hub Oficial

 



Ainda no âmbito de direcionar as discussões globais num
sentido que seja favorável ao Brasil, dependendo de como a dinâmica EUA/China
caminhar nos próximos anos é interessante que o Brasil esteja preparado para
lidar com interferências externas, e mesmo tirar vantagem das dinâmicas confusas
que emergem nesses desequilíbrios globais,
e aqui a Suíça talvez seja o caso mais
clássico de ter sabido se posicionar em momentos de confusão global,
pra
conseguir capturar algum upside...turns out that being neutral was a good
business back then
, mas o Brasil vai precisar de estruturas de intel pra
conseguir entender o que tá acontecendo e capturar algum gain nas dinâmicas
globais.


Por fim deixo essa conversa, que mesmo não diretamente ligada a intel, passa um pouco pelas discussões que rodeiam o tema. E fala um pouco de como essa dimensão de intel é importante para uma estratégia nacional, até pelo progresso gerado pela competição entre países.  Em outra dimensão dá pra ver um pouco da militarização do espaço  que está em curso atualmente, tanto em China quanto em EUA.



The tissue of social relations in Brazil and economic complexity

 I often miss meeting people with an inner world. They are out there, but even as you get through them it’s usually hard to dive into their ...