Tuesday, March 2, 2021

Finanças de bilionário, divida pública e politica fiscal


Um dos argumentos mais frequentes no discurso dos
conservadores econômicos, em política fiscal, que é repetido de forma cega é a ideia
de que em algum momento as contas precisam fechar. Tal qual nas finanças
domésticas. A bem verdade, o atual quadro da dívida mundial é a prova cabal de
que as contas sequer devem fechar.



Toda a dinâmica do sistema atual é baseada no lastro em dívida
pública, alguns mais ousados falariam em dívida AAA, mas sendo objetivo a LVMH não imprime moeda. Esticando esse argumento é possível que em algum momento,
isso volte a causar conflitos na zona do Euro (não na Europa).



Quando pensamos em dívida pública geralmente o mindset é
pensar em “porque deu errado para alguns países?”, porém é mais interessante
pensar o porquê de alguns mercados terem dado tão mais certos do que outros?



Esse argumento ainda está em construção, e possivelmente
será atualizado.



No mundo moderno é fator comum para esses países, que deram
muito certo, que em algum momento eles tenham lidado com algum influxo de valor
muito forte, oriundo do exterior. Em termos de história recente Iceland é um
caso particularmente interessante, até porque em comum com outros países da
minha análise ele tem o controle sobre a própria moeda, mas permite conta em dólar. 

Update:(Ponto no paragráfo anterior: Primeiro ponto - O impacto do Influxo na entrada)



 Outro momento
importante para se analisar, é a formação do mercado de eurodólar no UK das décadas
de 50-60. Onde existe todo um influxo de moeda externa para o UK, que entre
outros objetivos, acaba resultando num enfraquecimento da libra. No contexto
desse mercado, você ainda tem a dinâmica desse dinheiro se mover rapidamente pelo
mundo.



Update: Lendo o Eizing(Paul), London tenta assegurar sua posiçao como centro financeiro (quando o dolar vira o mainstream financeiro) , isolando a libra mas assegurando o papel dos bancos Londrinos nas finanças internacionais.

Update2: Com o desenrolar do Brexit , "It's happening again" como trade de ações já não é a anos o carro chefe de Londres,a ideia agora é preservar preservar os futuros de commodities Ministers plan overhaul of capital market rules to boost City | Financial Times (ft.com) Em termos de commodities e pauta de exportação muito se fala em China/EUA, porém nesse aspecto para o Brasil os Países Baixos também são um parceiro importante, e com o Brexit Amsterdam vinha crescendo.


Dois países, que eu ainda estou revisando a literatura (em
estágio inicial), são Suíça e Japão. Na Suiça, o influxo de valor estrangeiro é
histórico, e se confunde com toda a dinâmica de dinheiro antigo europeu.  

O Japão
é caso mais recente, mas pelo modo como ele foi uma potência local em um período
que a economia da região esteve bem quebrada, isso aliado a introdução do
sistema bancário americano na região, deve ter gerado algum influxo dos países
da região (carece de verificação). Em comum essas duas moedas (JPY e CHF) são peças
importantes no modo como o mercado de FX se estrutura hoje (O dolar é majoritário, mas estes são pares relevantes), para além disso o
JP é exemplo claro de dívida impagável.

Update:Pro JP principalmente, o peso do softpower na relação com os EUA garante um influxo rumo a bolsa local. 



Olhando para o caso, em que atualmente eu estou mais
adiantado em literatura que é o UK, com o tempo esse capital se moveu para Tax Havens
britânicos (Jersey, Ilhas Cayman...) e a Icelando estatizou a parte mais local
do sistema financeiro ( isso quando depois de 2008 o fluxo de saída causou problemas no sistema financeiro local).

Update:( Ponto no paragráfo anterior: O que aconte após o influxo)  



Nesse contexto o quadro europeu é interessante, porque
alguns países conseguem desenvolver credibilidade para servirem como reserva de valor (em sua moeda ou no dolar) e esses se mantém com suas moedas, outros que falham em desenvolver
essa credibilidade passam a integrar o sistema franco-germano do euro. Tem a Itália
também mas como, meu foco principal é tax haven, o Vaticano e seu banco são uma
estrutura mais difícil de analisar, pra além disso a Itália falha nessa
construção de credibilidade.

Update:( Clarificando o paragráfo anterior: se o país falha na construçao de credibilidade própria abrir mão da própria moeda pode oferecer ganhos).

O Banco do Vaticano é uma dinâmica mais histórica que atual (ao menos aparentemente).



Esse é um ponto, interessante para entender o estado das
finanças globais na atualidade, é bem difícil achar alguma Fortune 500, que não
tenha subsidiária em alguma dessas jurisdições ou em Delaware, e demais equivalentes americanos. (Paragráfo se refere a citação na imagem)

E esses tax havens, precisam da exposiçao ao sistema de leis de suas ''mainlands'', até pra ter credibilidade que serve como uma layer de proteção em caso de litigio. 

Update:( Clarificando o paragráfo anterior: a ideia é que os sistemas financeiros de tax havens tem limites sistêmicos no que se refere a ser autonômo).



Vou deixar, isso em aberto por agora pra retomar o ponto
principal,
até porque em termos de avanços de pesquisa (de tax haven) é por aqui que estou.



Boa parte do capital mundial, reservas financeiras estão
baseadas/passam por esses lugares (tax havens) em direção as taxas de juros mais
interessantes. Se você lembrar que os principais fundos de investimento, em
termos de tamanho são os fundos de pensão, não é interessante para ninguém que
grandes economias tenham dívidas saneadas. Com os juros nos níveis atuais a situação
já é suficientemente complicada.



Quando você olha para uma dinâmica de dívida é melhor pensar
nas finanças de um bilionário. O Zuckerberg cria uma empresa de 700bi USD, mantém
a posse de 10% (valor hipotético, porque não é relevante para o exemplo), e usa
esses 70bi como colateral para ter acesso a empréstimo barato, para as despesas
cotidianas (se ele fosse de fato vender as ações, ele teria que abrir mão das
Golden Share dele). Digamos que desses 70bi ele consiga, em uma análise de
risco, transformar num empréstimo 10%, até porque ações oscilam então nunca
será 1 para 1.



Se a ação de Facebook continuar subindo, dependendo da taxa
de juros, que é ínfima ainda mais atualmente ele pode refinanciar esse empréstimo
basicamente ao infinito e além. Similar a dinâmica de mercado imobiliário americano
que estoura em 2008
, porém como o risco desses caras quebrarem é quase nulo,
essa bolha não estoura (a não ser que o cara seja russo e desenvolva uma inimizade
com o Putin, nesse caso um banqueiro que provavelmente é Suiço ou Londrino com
operações no Cyprus vai ter um problema). 

Para além disso é difícil ver um cara
como o Zuckerberg gastando mais de 300mi USD/ano, como pessoa física o. A
não ser que ele que ele queira comprar um Yacth, daí provavelmente teríamos uma
rebelião de acionistas, mas para esse perfil de networth boa parte dos gastos a
empresa paga. Pensando por esse lado, fica fácil entender por que a Cargill não
é pública até hoje, assim como boa parte do Agro Brasileiro.

Update: Tem toda uma discussao histórica sobre o que a empresa paga,e o que é gasto pessoal. Principalmente no que se refere ao uso de jatos corporativos. Essa discussão esfriou, mas de vez em quando reaparece. Nesse ponto é interessante pensar na história do BBJ da Boeing, que alguns dizem teria sido um pedido de diretores da GE.



Quando trazemos essa análise para a dívida pública, a gente
volta na dinâmica tradicional de que pouco importa o valor da dívida pública, o
que importa é a relação dívida/PIB se o PIB cresce, e o quadro de credibilidade
permite você manter essa taxa de juros equilibrada junto com o câmbio, a conta
de déficit não precisa fechar.

O PIB deve ser o foco da discussao, e em nossa analógia é o valor da ação de FB.



Ponto importante e particular da dívida pública é que ela
deve ser interessante mesmo depois que as consequências do mercado de FX entram
em cena, do contrário o país fica refém de emitir dívida em moeda estrangeira,
e no caso brasileiro a porta do FX é bem mais estreita do que o BC brasileiro parece conseguir
perceber, até porque o BRL tá longe de ser um par popular nesse mercado que é
coisa de 6tri USD/dia. Fora que toda a liquidez do BRL tá concentrada na B3,
então qualquer market maker fica com pouco espaço pra arbitrar e estabilizar
fora do contexto de B3, e esse é (no caso brasileiro deveria ser) um mercado
descentralizado.

Update: Esse argumento mais macro é bem livro texto, com a sistemática operacional de BC do Some unpleasant monetarist arithmetic, nem olhando tanto pras conclusoes. Mas na real o Fx é uma peça que faz falta ali, o que faz sentido já que não eh um problema numa perspectiva de FED, apesar que nessas ameaças de inflation GBP e CHF tem reações interessantes frente ao USD.



No mais, se uns conspiradores da inflação fazendo selloff de treasury já fizeram um barulho nos últimos dias, imagina se a China resolve acompanhar; é do deficit público que vem boa parte da integração global atual. (aliás Assistam Hamilton). 






Enfim, isso acabou sendo ideias jogadas ao vento, mas é um
pouco do que ando pesquisando e lendo.

Alguns links pra fundamentar, a maioria já tá no r/cecia , de resto vou atualizando aos poucos:

Several observations on capital flows in Japan - BIS papers No 15, part 9, April 2003

The Origins of the Eurodollar Market in London: 1955–1963 - ScienceDirect

The City of London: Geopolitical Issues Surrounding the World’s Leading Financial Center | Cairn International Edition (cairn-int.info)

The Overleveraged Economy of Iceland

Foreigners cut holdings of Brazilian public debt to lowest since 2009 | Reuters

UPDATE 1-LVMH set to raise $10 bln-plus from bond markets for Tiffany deal | Reuters (Yeld negativo)

__Pontos para reflexão:

  • A capacidade desses influxos de capital externo, impactarem no multiplicador monetário/bancário mesmo sendo em moeda estrangeira. Isso na medica em que essa criacao de moeda corre por fora do BC.
  • Na perpectiva progressista (econômica), existe(no BR) um cinismo em relação ao câmbio que através do silêncio dá respaldo a esse descontrole visto nos últimos tempos. Para além  do tradeoff juros-câmbio, o discurso parece mais centrado num ideário de  indústrialização distante da realidade,na medida em que o processo fábril vai caminhando na direção da commoditização e/ou da automação.

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