O texto a seguir surge de conversas pela internet, sem maior rigor. Porém é interessante no sentido de construir algumas intuições quanto ao papel do Estado ,e do crescimento no longo prazo.
Meu interlocutor aborda a questão de que “não é
o consumo a alavanca do crescimento e do emprego, mas o nível de poupança”
Essa discussão
do consumo X poupança, é basicamente uma discussão de crescimento a curto
prazo (geralmente 1-5 anos), e crescimento de longo prazo (50-150 anos). O
modelo que trabalha bem isso, é o modelo de Solow. Pensando no longo prazo
acabamos em algumas discussões interessantes, como o estado estacionário (um
ponto a partir do qual a renda não aumenta mais); a golden rule (que seria o equilíbrio
perfeito entre consumo e poupança); e ainda quanto a de quem é a poupança. No
Brasil por exemplo como os salários são baixos, e as empresas pouco eficientes
em gerar reservas (já que nenhuma cria valor do zero, sem investimento não
humano), muita gente vai argumentar que a poupança deve ser feita pelo governo.
Mas ainda
sobre o estado estacionário, esse ponto é interessante já que quando uma
economia atinge esse estágio, toda formação de poupança se destina unicamente a
cobrir a depreciação. Daí quando se objetiva promover um aumento do produto altera-se
o nível de poupança, daí vai levar mais uns 50 anos até atingir um novo equilíbrio
estacionário.
E assim você
vai regulando, o nível de produto. Mas essa discussão de longo prazo é bem
viva, porque nessa perspectiva, impressão de dinheiro já não faz mais a menor diferença
no nível de produto. O que acontece no curto prazo, é que entre imprimir, e
isso ser consumido pelo ajuste de preços, tem um intervalo que permite o ganho
de produto.
No longo
prazo política monetária não faz muita diferença. Mas a grosso modo isso é uma discussão
bem acadêmica, já que não se tem o que fazer de uma perspectiva de política monetária
ou governamental, para atingir aumento de poupança, se não gerar o aumento da
renda agora.
Alguns
governos tentam, via estruturas previdenciárias gerar poupança..., mas como
esse dinheiro acaba controlado pelo governo a alocação dele acaba sendo de
baixa qualidade.
O que é
interessante na perspectiva em que os maiores fundos de investimento do mundo
hoje, são fundos previdenciários, ou governamentais. Você começa a procurar por
exemplo alguns fundos de investimento de professores canadenses, e vai ver que são
gigantescos. Numa outra ponta Singapura por exemplo tem o GIC, que é até um
caso que funciona bem, com uma carteira 100bi USD.
Meu interlocutor me indaga quanto ao modo como
eu e toda a ciência econômica “estabelece o centro de gravidade: sol, ou melhor,
o estado”
Sim, sim,
mas sendo bem sincero eu não estou olhando para o estado como o ESTADO ideológico
político ou qualquer coisa desse tipo, mas sim como um consumidor gigantesco,
que é responsável por um consumo de cerca de 30 porcento dentro de uma
sociedade. De modo que quando eu controlo esse consumidor eu controlo a economia[considerando a dinâmica do multiplicador keynesiano].
Tirando o
estado da equação, é uma coisa..., mas não existe economia enquanto ciência se você
não tem como executar qualquer planejamento... e hoje o canal de execução é o
estado, esse consumidor gigantesco [pela via fiscal, ou ainda pela via
monetária].
Uma coisa é
o seu Joaquim tentando definir o preço da saca de soja, outra coisa é uma
empresa como a Bunge tentando. Um deles invariavelmente é grande o suficiente
para conseguir, pelo menos em nível local.
Meu interlocutor constrói uma lógica sobre o
papel da economia, como ferramenta de controle da sociedade. E define esse
controle como impossível.
As pessoas
agindo em bando, são bem previsíveis e é o que a economia tenta entender.
Meu interlocutor constrói uma
lógica para justificar o livre mercado sobre as bases da microeconomia
racional, numa perspectiva simplista.
A microeconomia
é bem mais complexa que macro, tanto em nível de modelagem matemática quanto a própria
teoria em prosa, tanto que o ultimo Nobel foi justamente sobre um paradoxo em
micro. É mais difícil analisar a decisão individual do que a decisão coletiva,
e olhando nessa lógica é mais fácil acertar em termos de macroeconomia do que de
micro.
E se você
olha para a atuação do FMI, e do próprio FED americano, você começa a entender
isso.
Não dá para
controlar o ambiente microeconômico, só o macro.
Mas no geral
esses pontos, são chave em termos de a economia transitar dos estágios de pseudociência
para ser de fato uma ciência.
E a noção da
economia como ferramenta de controle, é muito no sentido de que uma ciência
serve para entender e controlar, como algo funciona.
Caso contrário
uma equação para definir a trajetória de um projetil em física é inútil. A função
de uma ciência é modelar o mundo real e me dizer o que vai acontecer. Antes de
acontecer, ou seja, sem os custos envolvidos no evento acontecer.
Meu interlocutor constrói um exemplo onde a
atuação governamental ao construir um empreendimento com o dinheiro coletado da
sociedade é menos eficiente, em termos de geração de renda a nível local, do
que se o dinheiro simplesmente não fosse coletado e os próprios agentes
definissem sua destinação. Isso considerando que ao não ter pleno conhecimento
sobre as variáveis envolvidas, eu não sei o que aconteceria, caso o estado
simplesmente não interferisse.
Aí você está
colocando a sociedade dentro de um jogo de probabilidades. A chance de digamos...mil
pessoas conseguirem sentar numa tarde qualquer de domingo para se organizar e
construir um empreendimento que vá gerar emprego... ou uma única entidade chegar e
fazer o empreendimento.
O que pode
acontecer é que a própria sociedade organize essa entidade..., mas nesse
processo a atuação da entidade é a mesma do governo, então novamente eu formei
um consumidor gigantesco, que para desenvolver no modelo Z=C+I+G... pode não
ter o nome de governo, mas age como governo.
Quanto as
mil pessoas conseguirem sentar numa tarde domingo e se organizarem entre si,
como indivíduos privados...eu diria que é improvável.
Meu
interlocutor estabelece que nas revoluções industriais vários indivíduos
atuaram como indivíduos privados
Não sei
muito sobre revoluções industriais, mas de certo modo você tem sim algumas
entidades que centralizam o poder, ou o capital. Podem não ser o Estado, mas
existe concentração de poder e capital.
E quando eu
falo em concentrar poder e capital é basicamente o que o Estado tenta fazer.
Os mercados
financeiros, são basicamente uma tentativa de concentrar capital, então no fim
das contas ao invés de pedir dinheiro para mil pessoas você pede o dinheiro para
o gestor do fundo com o dinheiro dessas mil pessoas. No fim das contas esse
fundo assume a função de mega-consumidor.
Falando por
alto, na revolução industrial você forma uma elite que concentra muito
capital...então pode até não ser estado, mas o modo dela agir é muito comparável,
a figura do estado como consumidor gigantesco.
No México surgem
umas questões desse tipo com o consumidor gigantesco, na figura do Carlos Slim.
E de fato,
retomando algumas discussões anteriores, se eu consigo formar um consumidor
grande o suficiente para bancar os custos de engenharia de um foguete eu não
preciso do estado, a questão é que é difícil formar esse tipo de agente.
Nos EUA você
vai ter figuras como o Rockfeller e o JP Morgan...no Brasil você tem a Petrobras....
Hoje no
mundo o Wal-Mart é maior que a economia de alguns países, e deve ter mais
facilidade para captar dinheiro que alguns países
A diferença
talvez, é que a cada 4 anos a sociedade quer ter noção de que escolhe quem controla
o seu Wal-Mart.