Thursday, May 31, 2012

Você é feliz?

Já tem algum tempo, que mantenho uma página aqui no Cinema & CIA com um poema, Caso do Vestido, de Carlos Drummond de Andrade. Na época a página surgiu como complemento a um artigo sobre um filme, baseado no tal poema. Um filme baseado num poema, pelo fato em si, já se constitui uma situação interessante, marco do pensamento romântico, onde grandes obras musicais eram inspiradas em poemas, pinturas, obras literárias... Enfim, logo naquela época, já achei o filme fascinante, e o poema também.

 Mas hoje, tendo se passado menos de dois anos, tornei a ler o poema; com outra forma de pensar, outra mente, com novas ideias, com mais experiências vividas... E é mesmo incrível, perceber como um mesmo texto, com as mesmas palavras, as mesmas vírgulas, pode se colocar diante de nós de formas tão diferentes, em momentos tão distintos, e ao mesmo tempo complementares de nossas vidas.

Uma experiência, um momento, uma situação, independente da forma como isso acontece, muda as pessoas. E isso acontece todo dia, a cada minuto, somos de fato a metamorfose ambulante, proposta por Raul Seixas. A cada experiência, crescemos como seres humanos que somos.

Em situações como essa é fácil perceber, o por quê de quando perguntamos a uma criança se ela é feliz, ela sem mesmo pensar, responde de súbito que sim. Ao fazer a mesma pergunta a um adulto, já começamos a perceber as diferenças, ele certamente irá pensar, demorará um pouco a responder, por fim, pode até dizer que sim, é feliz, mas qual o motivo dessa incerteza, expressa na demora em responder?

A mente nunca pode se fechar para o mundo, e para a vida, talvez seja aí que reside a certeza da criança em responder que é feliz, ela é curiosa, quer saber o por quê de tudo,  sem precisar da exatidão extrema, que torna a vida tão complexa , quando ela em sua mais pura essência é simples e agradável. Se a vida for tida como difícil, ela não será fácil, mas o oposto também é real.

Para certas perguntas, não devem existir respostas, e é essa inocência que deveria fazer a vida mais simples e feliz.

Daniel Rodrigues








->Caso do Vestido

Wednesday, May 30, 2012

Redentor(2004) - João Emanuel, além "da Brasil"

“Realidade”, é com certeza um critério questionável ,quando se trata de leva-lo, ou não em conta na apreciação de uma peça artística. No cinema — ah, nossa querida sétima arte —, esse conceito, é ainda mais variável. Temos realidades alucinadas, com lógicas que visam criticar uma característica, ou mesmo uma situação cotidiana, no dia-a-dia da sociedade, um exemplo é o Processo (1962), do esquecido — embora genial — Orson Welles, onde este maravilhoso cineasta, que inclusive deixou marcas em sua passagem pelo Brasil, critica todo o sistema judiciário americano, através de um complexo roteiro e representações caricatas, como a do grande advogado, que tem a seus pés, clientes, e nas mãos inúmeras formas de ludibria-los. 

 No Brasil, o exemplo recente desse abandono racional da realidade é o Redentor (2004),de Cláudio Torres. Onde toda a história gira entorno do personagem de Pedro Cardoso, um jornalista que na infância foi amigo de um dos magnatas do setor imobiliário carioca, e assim levou seus pais a comprarem um apartamento na então terra dos sonhos ,numa época em que a Zona sul carioca já começa a se mostrar supervalorizada e com pouco espaço para novas construções :a Barra da Tijuca. Entretanto a conclusão deste negocio nunca chegará a acontecer, e uma divida eterna irá se estabelecer.

Como uma de suas várias temáticas o filme aborda a ganância, que faz parte da personalidade das pessoas, através de algumas falas do personagem de Miguel Falabella, que nos levam a constatar, que mesmo que uma quantia em dinheiro fosse dividida igualmente as pessoas não se dariam por satisfeitas. Por natureza elas querem sempre mais.

 E é por meio do personagem de Pedro Cardoso, que a produção coloca em voga, uma critica a corrupção, na politica e no jornalismo, um assunto muito atual em tempos de um governo pós-populista, onde o que importa é o voto das massas.

A produção aposta ainda num casamento, brilhantemente realizado entre trilha sonora erudita e popular, empregadas nas cenas de suspense, e no clímax da história, respectivamente.

 O longa metragem, ainda traz a tona uma discussão sobre a religiosidade, num momento em que o roteiro, se transformar numa grande farofa, dada a forma brusca, e imediata como essa virada acontece. Contudo, a brilhante direção de Cláudio Torres, em conjunto com o grandioso elenco que — além dos já citados —,conta com nomes como o de Camila Pitanga, Fernanda Montenegro e Stenio Garcia; ameniza os efeitos dessa virada de roteiro.

A qualidade técnica, das cenas, combinadas com a brilhante mistura musical, colocam o espectador, diante de uma reflexão sobre a vida do personagem central e suas escolhas, e o conduzem ao questionamento quanto à lucidez de Célio Rocha(Pedro Cardoso), de forma profunda e levemente cômica.

Entre os autores, aparece o nome de João Emanuel Carneiro, que atualmente é responsável pela representação televisiva, da nova classe média, vista em Avenida Brasil.



Daniel Rodrigues

The tissue of social relations in Brazil and economic complexity

 I often miss meeting people with an inner world. They are out there, but even as you get through them it’s usually hard to dive into their ...