É interessante pensar em como o espaço para o aprofundamento,
se escasseia conforme o individuo progride. Comecei a leitura do volume 1 dos
diários de FHC. Avancei bem poucos capítulos, mas não deixa de me impactar a
sensação de que algo está errado naquela narrativa, e de modo geral em todos os
grandes círculos que se propõem as macrodecisões.
O mais próximo desse tipo de narrativa com o que havia tido
contato previamente, era uma pequena coletânea dos diários de Goebbels. Extremo
admito, mas o que quero tratar independe do juízo de valor que se faça da
figura histórica.
Como espectador externos, acabo quase sempre ficando fascinado
no modo como os grandes dilemas acabam relegados a papéis secundários nos círculos
de macrodecisões, no caso meu objetivo é aqui analisar questões de estado, mas
se pensarmos que com o tempo os executivos acabam se dedicando mais ao cultivo
das relações pessoais(clientes,fornecedores...), do que ao próprio mainbusiness é fácil ver que essa
distanciamento das macrodecisões em relação ao microgerenciamento, é comum a
todo tipo de instituição.
Se nos diários do ministro da propaganda Nazista vemos a
importância que se atribui a suas interações com o Fuhrer e com os demais membros
do círculo íntimo, se sobressaindo sobre qualquer questão técnica de sua bem-sucedida
atuação enquanto ministro da propaganda. O quadro não é diferente na forma como
percebo o cotidiano de FHC nesses primeiros períodos anos do mandato.
Em última instancia é difícil imaginar um CEO, ou um presidente
tendo tempo de pensar nas micro gerências, com o tempo esses indivíduos acabam
isolados falando para todos, mas interagindo efetivamente, com um pequeno grupo,
e muitas vezes formando suas reflexões baseado apenas nas leituras de terceiros.
O que sempre me choca nessas biografias, é a inexistência da
construçãodas próprias leituras. É sempre como se estivesse lendo
sobre fatos cotidianos irrelevantes dos quais misteriosamente saem as decisões
que efetivamente guiarão os agentes na base da sociedade.
Se eu leio os diários de Goebbels ou de FHC, eu quero
entender o que eles estavam construindo, e não suas relações pessoais. Como surgiram
peças de propaganda de propaganda tão marcantes na Alemanha desse período? É o
que eu queria saber, mas não é isso que eu encontro nesses diários. Terei muito
mais sorte procurando a técnihistória doscos subordinados a essas figuras. Se eu
quero entender o sucesso do Itaú, talvez seja melhor procurar pelo Wollner do que
pelos Setúbal.
O mais provável é que quando o individuo chega ao ponto de
totalmente se desligar da microgestão, surja essa grande distorção capitalista,
das macrodecisões tomadas por pessoas totalmente desconectadas da discussão
micro.
Eu tenho um fascínio por esse período na história,pelo modo
quase religioso em que parcelas da sociedade abraçaram a ideologia nazista. Ver
o Deutsche Bank abraçar, e lucrar com o confisco de propriedades de judeus é
uma coisa, mas ver a dinâmica cooperativista, e até idealista que surgem em movimentos
como a Hittler Youth é algo mais forte. E são movimentos que se tenta ora evitar,
ou estimular no Brasil, seja com as aulas de educação moral e cívica, ou agora
com a escola sem partido.
De algum jeito esse modelo de liderança nos distância dos
indivíduos que vão tentar construir suas leituras da sociedade...faz pensar que
talvez esse governo dê certo, não porque as pessoas sejam boas, mas porque são
idiotas o suficiente para tomarem as macrodecisões de forma rápida, pouco
pensada....de uma forma medíocre, contudo embasada por um corpo técnico que no âmbito Federal, amadureceu nas últimas décadas.
Talvez seja mais barato simplesmente entregar a alta gestão ao
corpo técnico.
Em vez de a cada quatro eleger uma pessoa, eleger uma
universidade...
talvez seja mais barato.
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