Friday, February 8, 2019

O embaixador - West Morris


A trama de West Morris “O embaixador” pode ser descrita de diversos modos, o que é
condizente com a ambiguidade moral presente ao longo de toda a narrativa. O que fica
claro na figura de um poderoso embaixador que vive uma crise existencial após perder a
esposa.



Um homem que recebe ordens do presidente, porém ao embarcar numa jornada
espiritual, é repreendido por seu mestre nessa busca espiritual. E a dimensão disso no
personagem é confusa para ele mesmo que confronta essa repreensão com sua função
social no mundo:



 “Tinha de aceitar a repreensão, porque esse homem era o mestre e eu o discípulo, mas
não deixava de ser difícil de aceitar porque em outro plano, eu era o grande homem,
chamado pelo presidente de uma grande nação para modificar, se pudesse o curso da
história. Meu orgulho clamava por libertação quanto a essa submissão...” 



A narração da trama é dada pela evolução do pensar de Maxwell Gordon Amberley, O
embaixador. Nas primeiras páginas já o encontramos após a jornada que irá percorrer ao
longo da trama. E todo o tom da narrativa já é de imediato jogado quando o
personagem define seu contexto, desenhando o modo “frio e calculista”, como todos ao
seu redor enxergam sua figura, mas ao mesmo tempo se indaga “...como podem
conhecer a consciência intima de Maxwell Gordon Amberley (que sou eu), quando ele
próprio só a veio conhecer tão tarde?˜. Uma fala forte e ao mesmo tempo tão humana, e
natural, numa precisão clássica do “é o que é”. E de certo modo uma consequência
direta dos dilemas que ele acaba de enfrentar. Em sua carreira de embaixador, já não é
usual que ele tenha tempo para dilemas morais, as questões surgem, e exigem dele um
nível de racionalidade que atinge a própria amoralidade.



Apenas problema e solução. O que fica claro no seu modo de entender o dilema que foi
indicado por Washington para responder:




 “O comunismo pelo seu próprio evangelho mostrava-se igualmente específico. A
identidade do homem era afirmada e mantida apenas por sua atividade coletiva. Ele era
uma criatura dependente gerada do caos e marchando para a extinção. Sozinho, estava
condenado por toda a vida a um deserto ameaçador, vitima de injustiça e exploração.
Por isso, sua identidade de participação útil na massa, mas tinha uma identidade e,
sujeito a conformar-se a ela, a massa o garantiria e protegeria. ” 



Amberley foi tirado de sua crise existencial e lançando em plena guerra do Vietnã, mais
especificamente no Vietnã do Sul. Onde o ditador Phung Van Cung, começa a desafiar
as ideias de liberdade vindas de Washington. Aqui a confusão se dá nos conflitos de
uma sociedade oriental dividida por religiões (Cung é católico), e há significativa
parcela da sociedade que é budista. Logo na chegada do embaixador ao Vietnã do Sul
todo esse contexto emerge:




“Não tínhamos ainda passado por ele quando o vi erguer o vaso e derramar o conteúdo
sobre a cabeça, como se estivesse executando uma ablução ritual. O líquido escorreulhe pelo rosto e pelos ombros, manchando-lhe o manto amarelo e o tapete onde se
sentava. Depois colocou tranquilamente o vaso no chão e tirou do manto um isqueiro.
Ao acendê-lo houve uma explosão abafada e todo o seu corpo se incendiou. “ 



A intensidade da cena constrói a dimensão, da transição que o embaixador enfrenta logo
em seus primeiros momentos no Vietnã do Sul.



 Enquanto se estabelece em sua nova posição, observamos a transição no estado interno
de Amberley, deixando de lado um estado de incerteza interna, para assumir uma
postura prática operacional que atingirá seu ápice quando a solução ao problema
“Cung” for de fato executada.



Ao desembarcar no Vietnã Amberley ainda carrega um dilema, uma espécie de puzzle
mental que seu mestre lhe entregou, que irá ecoar na trama por diversos momentos,
˜Que fará quando lhe pedirem que mate o cuco?˜ . De modo que a própria jornada de
transição de Amberley irá circundar a resolução do Puzzle.



 Nesse desembarque a trama também introduz duas figuras, que serão peça acessória
para a compreensão da personalidade do próprio Maxwell. A primeira é o general
Tolliver, e é na leitura que o embaixador faz desse personagem que começamos
entender a própria atuação de atuação de Amberley: “Era soldado astuto demais para
mexer em politica com profissionais”.



A outra figura é Harry Yaffa,um agente da CIA que é melhor definido em suas próprias
palavras, ainda em seus primeiros contatos com Amberley:



 “Sejamos francos embaixador compreendamos claramente quais as nossas funções. O
senhor é o representante oficial dos Estados Unidos. Eu tenho de servir de outro modo,
como oportunista politico. Há coisas que preciso fazer e nunca o senhor poderia
aprovar, e por isso é melhor que não saiba delas. Tenho de matar homens e subornar
mulheres. Tenho de fomentar um golpe, para garantir o êxito de outro, tomar medidas
antecipadas contra seu êxito e seu possível fracasso. Se quiser amenizar sua consciência
fazendo com que eu minta, sei fazer isso também e sou até bom na mentira, mas prefiro
não mentir, quando não é preciso. Espero estar sendo claro. ” 



A dimensão da trama da trama emerge quando o embaixador indaga Yaffa quanto a sua
consciência:

“Um luxo, Excelência. Descobri, há muito tempo, que não me podia dar a
ele.”.



Nessa primeira interação entre os personagens, apreende-se o estranhamento que há
entre eles. Yaffa vê na figura de Maxwell um politico, que age sem sujar as mãos, do
outro lado o embaixador vivencia uma acelerada transição no seu estado de espirito. De
modo que no desenvolver da trama, e com a emergência de uma solução para o
“problema Cung” observamos uma mudança no modo de Yaffa encarar a figura de
Amberley:




 “– O senhor sabe embaixador? Eu o subestimei. Permita dizer que o senhor é um
homem muito maior do que eu pensava.
– Obrigado pelo elogio, Harry.
– Não, estou sendo sincero! Este trabalho é arriscado, e bem depressa separa os homens
dos meninos. ”

 Ao conquistar a admiração de Yaffa, o Embaixador concluí sua transição, o que fica
ainda óbvio no modo como ele irá se portar em relação ao puzzle que lhe foi imposto
pelo mestre.

Diários FHC: Primeiras impressões







É interessante pensar em como o espaço para o aprofundamento,
se escasseia conforme o individuo progride. Comecei a leitura do volume 1 dos
diários de FHC. Avancei bem poucos capítulos, mas não deixa de me impactar a
sensação de que algo está errado naquela narrativa, e de modo geral em todos os
grandes círculos que se propõem as macrodecisões.





O mais próximo desse tipo de narrativa com o que havia tido
contato previamente, era uma pequena coletânea dos diários de Goebbels. Extremo
admito, mas o que quero tratar independe do juízo de valor que se faça da
figura histórica.





Como espectador externos, acabo quase sempre ficando fascinado
no modo como os grandes dilemas acabam relegados a papéis secundários nos círculos
de macrodecisões, no caso meu objetivo é aqui analisar questões de estado, mas
se pensarmos que com o tempo os executivos acabam se dedicando mais ao cultivo
das relações pessoais(clientes,fornecedores...), do que ao próprio mainbusiness é fácil ver que essa
distanciamento das macrodecisões em relação ao microgerenciamento, é comum a
todo tipo de instituição.





Se nos diários do ministro da propaganda Nazista vemos a
importância que se atribui a suas interações com o Fuhrer e com os demais membros
do círculo íntimo, se sobressaindo sobre qualquer questão técnica de sua bem-sucedida
atuação enquanto ministro da propaganda. O quadro não é diferente na forma como
percebo o cotidiano de FHC nesses primeiros períodos anos do mandato.


Em última instancia é difícil imaginar um CEO, ou um presidente
tendo tempo de pensar nas micro gerências, com o tempo esses indivíduos acabam
isolados falando para todos, mas interagindo efetivamente, com um pequeno grupo,
e muitas vezes formando suas reflexões baseado apenas nas leituras de terceiros.





O que sempre me choca nessas biografias, é a inexistência da
construçãodas próprias leituras. É sempre como se estivesse lendo
sobre fatos cotidianos irrelevantes dos quais misteriosamente saem as decisões
que efetivamente guiarão os agentes na base da sociedade.


Se eu leio os diários de Goebbels ou de FHC, eu quero
entender o que eles estavam construindo, e não suas relações pessoais. Como surgiram
peças de propaganda de propaganda tão marcantes na Alemanha desse período? É o
que eu queria saber, mas não é isso que eu encontro nesses diários. Terei muito
mais sorte procurando a  técnihistória doscos subordinados a essas figuras. Se eu
quero entender o sucesso do Itaú, talvez seja melhor procurar pelo Wollner do que
pelos Setúbal.





O mais provável é que quando o individuo chega ao ponto de
totalmente se desligar da microgestão, surja essa grande distorção capitalista,
das macrodecisões tomadas por pessoas totalmente desconectadas da discussão
micro.







Eu tenho um fascínio por esse período na história,pelo modo
quase religioso em que parcelas da sociedade abraçaram a ideologia nazista. Ver
o Deutsche Bank abraçar, e lucrar com o confisco de propriedades de judeus é
uma coisa, mas ver a dinâmica cooperativista, e até idealista que surgem em movimentos
como a Hittler Youth é algo mais forte. E são movimentos que se tenta ora evitar,
ou estimular no Brasil, seja com as aulas de educação moral e cívica, ou agora
com a escola sem partido.




De algum jeito esse modelo de liderança nos distância dos
indivíduos que vão tentar construir suas leituras da sociedade...faz pensar que
talvez esse governo dê certo, não porque as pessoas sejam boas, mas porque são
idiotas o suficiente para tomarem as macrodecisões de forma rápida, pouco
pensada....de uma forma medíocre, contudo embasada por um corpo técnico que no âmbito Federal, amadureceu nas últimas décadas.






Talvez seja mais barato simplesmente entregar a alta gestão ao
corpo técnico.





Em vez de a cada quatro eleger uma pessoa, eleger uma
universidade...





Pra além, dos modos de como isso poderia ser desvirtuado,
talvez seja mais barato.



The tissue of social relations in Brazil and economic complexity

 I often miss meeting people with an inner world. They are out there, but even as you get through them it’s usually hard to dive into their ...