Assistir palestras acaba um sendo
um passatempo bem acessível nesses tempos de youtube. E eis que hoje vendo um
debate entre Suplicy e Olavo de Carvalho, começa a ficar bem claro o que está acontecendo
no Brasil. É um período de transição, alguns que outrora teriam sido
intelectuais de referência na cena nacional, começam a evidenciar que estavam
apenas aplicando sua própria interpretação do mundo nas suas análises, que
provavelmente estariam altamente expostas a tornarem-se politicas públicas em
outros tempos. O que não se configura como um problema, já que usualmente a
lógica é “tem-se um problema, algum intelectual pensa esse problema, e
desenvolve uma solução”. A grande questão fica mesmo evidente quando se percebe
o quão descolado da realidade essa análise é, e por consequência fadada ao
fracasso. Olhando a fundo,traços desse raciocínio podem ser percebidos em toda
a legislação brasileira, que inúmeras vezes é a perfeição social-burocrática em
si própria, mas totalmente inaplicável.
Daí faz sentido entender o grande
medo que assola o empresariado brasileiro, e talvez o porquê de haver uma certa
associação indireta entre essa classe e a direita brasileira. Já que esquerda, está rodeada de especialistas desse tipo [aquartelados nas universidades e distantes da realidade], o que talvez lhes tenham
proporcionado uma certa vantagem histórica, na medida em que o discurso com certa
base acadêmica, em sua essência tem maior peso social, isso associado as
respostas simples capazes de uma engajar uma classe artística sem grande
profundidade intelectual
num período de claras desigualdades
na sociedade brasileira(em especial o período marcado pela estagflação até o
inicio dos anos 2000). E de um modo geral, temos esses quadro de atores e interesses confusos,nos trazendo a esse período de transição contemporâneo.
Desde os anos 2000 a economia
brasileira sofre uma acelerada transição, do “faz aí”, para uma geração que
cada vez mais se volta a pensar em “como fazer, para então fazer”. Ao
mesmo tempo, a elite que conseguiu ascender em meio ao conturbado período pré-anos
2000, se consolidou, e agora os filhos desses indivíduos, junto com alguns incríveis
casos de superação do contexto social volta ao Brasil, trazendo na bagagem um
background com o melhor que as Ivy-Leagues lhes puderam oferecer. Essa geração
quer ocupar o seu espaço, e é aí que vão surgindo os Ségio’s Moro’s ou Deltan’s
Delangnol’s. Vai sendo evidente, por uma simples análise de currículo, a
diferença no capital social acumulado por esses indivíduos, e a atual classe
politica brasileira, que construiu seu capital social, num cenário distante da
consolidação dominado pelo “faz aí”. Enquanto que aqueles regressando das Ivy
das Leagues construíram seu capital social num contexto já consolidado, e por
consequência onde o “faz aí” já estava superado.
Não é que um vá estar mais certo
do que outro, a questão chave é que construções individuais diferentes vão
gerar perspectivas diferentes. Logo temos réguas diferentes, entre
fiscalizadores e os fiscalizados. E como a tendência é que os fiscalizadores
cada vez mais construam seu capital social num contexto já consolidado, os
embates tendem a ser cada vez mais intensos entre as duas classes. A classe política
será, pela essência do seu modus operandi, mais lenta no que se refere a absorver
esses indivíduos que absorveram o capital social num cenário consolidado. Aqui
enfocamos, na acumulação de capital social em cenários consolidados e não-consolidados, mas cabe pensar que por
hora o Brasil ainda vive a transição, então até que o país esteja consolidado teremos
ainda a acumulação de capital social num cenário intermediário.
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