Monday, February 1, 2021

Dinheiro demais, valor de menos


Quanto dinheiro é dinheiro demais? Até que ponto os top
players do sistema corrente estão entregando a sociedade valor equivalente, em
comparação com o que dela retiram? É fácil questionar a fortuna de figuras como
Jeff Bezos, ou qualquer grande capitalista.



Por outro lado é difícil mensurar o valor que eles entregam
a sociedade. Marketscaps são números cada vez mais insignificantes, num cenário
de liquidez excessiva a qual não parece se fundamentar em incremento de valor a
sociedade. Comparando marketcaps em diferentes bolsas, fica óbvio que eles
refletem mais quão líquido é o mercado, do que alguma métrica real do que a
estrutura social-produtiva presente naquela empresa vale.




Via de regra o auge do capitalismo ocorre na fase industrial,
é quando ocorre o grande boom de renda. Isso pode ser percebido tanto na revolução
industrial inglesa, tão presente nos argumentos de Engels e Smith, e agora no
boom chinês.  Interessante se perguntar por
quê? É elemento comum nesses dois movimentos sociais a capacidade que eles têm de
agregar grande massa de pessoas em atividades produtivas. Você engaja tanta
gente quanto possível num intenso processo de geração de valor, o que pode
acontecer é que invariavelmente isso dá certo.




Em geral essas massas populacionais estavam previamente organizadas
em atividades de subsistência, ou no máximo em estruturas proto-indústriais focadas
em atender mercados fisicamente próximos.




Porém, o que se vê depois dessa fase industrial é um cenário
onde a produtividade é otimizada e cada vez menos gente é necessária. No fim o
foco do capitalismo acaba sendo produzir uma máquina de gerar valor com cada
vez menos gente envolvida no processo produtivo.




Ao invés de dar 1001 voltas, vamos colocar que segundo o statista
a receita por funcionário do Google foi de 160bi USD/120k =1,3kk USD e a da Boeing 76bi USD/ 160k = 472k USD em 2019. Se for olhar Embraer, chega aos 100k USD




É impossível gerar tanto valor sem uma estrita coordenação
social. Custa caro fazer pesquisa, a maior parte dela nunca vai se traduzir em
produtos, qualquer estrutura capitalista que tente atingir isso vai ser
ineficiente.




Olhando para a história recente é fácil perceber que o período
em que mais se gerou valor para a sociedade em termos de conhecimento foi no período
que se estendeu dos anos de 1940 até 1970. Para qualquer local no mundo que se
olhe você encontra uma estrita coordenação social para o desenvolvimento de
pesquisa, mesmo nos EUA,  é fácil esquecer que o Complexo Industrial Militar é elemento central para a economia do conhecimento que se estabelece, e é fruto de
um processo coordenado e em grande parte ( se não em sua totalidade) financiado
pelo governo na figura da OSRD (Office of Scientific Research and Development)
e de pessoas como o Vannevar Bush.




Em geral o único diferencial do caso americano, é que por ideologia,
essa pesquisa não foi internalizada no governo, apesar de paga por este.




Num momento em que  o ocidente parece superar a ideação de que a
China se aproximaria dos modelos de governo ocidentalizados, o modelotecnocrata chinês parece corrigir as falhas do modelo centralizador (na KGB e
no Próprio Stalin) presente na  união soviética, na medida em que pelo menos sob a
gestão atual o CCP não parece caminhar rumo ao totalitarismo, mas sim rumo a uma
tecnocracia, que por sinal se assemelha bastante ao que alguns historiadores costumam
atribuir ao OSRD de Vannevar Bush.




No ocidente enquanto continuarmos a rezar por uma cartilha de
cada vez menos coordenação social, estaremos condenados a uma estagnação que
vai selecionando indivíduos abastados que tem o tempo para buscar construir suas
maquinas de fazer dinheiro, com cada vez menos gente em sua estrutura.




Gerir pessoas é desafiador, o racional vai ser que os
agentes continuem a buscar múltiplos receita/funcionário cada vez maiores. O
que se vê hoje é que isso é executado via distorções no fluxo monetário/financeiro, se
traduzindo em bastante dinheiro para os operadores, mas pouco valor para a
sociedade.




Casos como Gamestop, em minha leitura, são um sinal de monetário
descasado da geração de valor. A bem verdade estruturas social-produtivas como
Amazon, Google e assemelhadas entregam valor para a sociedade ajudando a base de
empresas  a aumentar seus múltiplos de
receita/funcionários.




O ponto em que em nenhum momento histórico se conseguiu uma
resposta satisfatória, é o que fazer com uma massa de agentes que não encontra
espaços na atividade produtiva? Onde alocar o colarinho azul? O modelo militarizado
americano tem sido eficiente em alocar essa gente na guerra, e em atividades de
suporte, a própria união soviética não encontrou resposta tão diferente.




Tendo isso em mente é fácil entender como num sistema para
cada vez menos pessoas, que cresce majoritariamente com as distorções do fluxo
monetário, as ideias de Renda Básica Universal encontrem cada vez mais espaço seja
através de Andrew Yang ou mesmo de Eduardo Suplicy. Dinheiro torna-se apenas um
número na tela, sem contrapartida de geração de valor.




Em outros tempos o Google seria fruto do Complexo industrial
Militar, um caso de pesquisa que encontra uma forma de se traduzir em um
produto.

The tissue of social relations in Brazil and economic complexity

 I often miss meeting people with an inner world. They are out there, but even as you get through them it’s usually hard to dive into their ...