Saturday, September 26, 2020

A irracionalidade das relações globais

 


A grande realidade, que você precisa esquecer pra conseguir
viver é que isso aqui não faz sentido nenhum. E em tempos que os mecanismos de
Bretton Woods vão sendo testados, mas ainda se mostram resilientes em suas
bases, é válido trazer a tona o Trump como alguém que joga luz nesse vazio existencial
no qual a humanidade se insere. Se tem uma coisa que a economia ensina é que se
não dá para manipular e testar, provavelmente não existe, mas em busca de achar
alguma resposta, que em última instância é existencial, você ignora isso –
Ceteris Paribus – e parte para o próximo estágio.




Quando fenômenos sociais como o Trump e o próprio Bolsonaro
surgem eles se escoram no fato de que a sociedade é recheada de verdades amplamente
aceitas, que pouca gente entende. É como se transitássemos de um cenário em que
fingir entender para ser levado a sério perde relevância, a massa popular passa
a se identificar com a ignorância que o Trump expressa, o perigoso plot twist é
que a ignorância é motivo de orgulho.




Daí entre os lideres recém chegados, que não querem abraçar
a ignorância – afinal não chegamos neste nível de conhecimento, através do
orgulho de não entender as coisas – o que transpira é o vazio recheado de incertezas,
com os tons de quero fazer a coisa certa. Aos poucos vai nascendo um novo tipo
de politico que nos seus canais pessoais/sociais é muito transparente em suas
incertezas. Isso é positivo, essa desconstrução de que as verdades são únicas,
e que por simplesmente estarem no topo da cadeia alimentar social as pessoas
simplesmente sabem o que fazer.




O Brasil é um lugar onde basta as pessoas falarem com
convicção para que uma ideia seja abraçada. Você não precisa saber, mas precisa
demonstrar convicção ao apresentar sua ideia. Uma espécie de curso de 40 horas
de sofismo. É de se pensar que o fácil acesso a conhecimento fosse capaz de
derrubar isso, mas a verdade é que ignorância alimenta ignorância, e uma
história curta bem contada com palavras simples é bem mais digestível do que
verdade uma cinza entremeada de detalhes.




O Trump no final das contas é só alguém que tinha dinheiro suficiente
pra não precisar de dinheiro – e com isso vem o amplo acesso a mais dinheiro –
e passou a vida navegando nesse mar de privilégios. Tinha alguma ambição de
aceitação social, quase infantil, o que aliado a um discurso fácil que toca a ignorância
interior do americano médio...Pronto temos um presidente.




O interessante nesse tipo de discurso é que na maioria das
vezes ele é simples demais pra tá certo ou errado, é uma verdade rápida que o
business mind aceita pra tirar alguma conclusão maior.




O que mais me fascina no meio de toda essa irracionalidade
que viraram as relações internacionais, é o modo como a sociedade tem conseguido
se manter estável. Num momento como esse muito se questiona Bretton Woods, e o
peso que a economia americana ganha ali como fiador mundial, com um fundo com
nome banco e um banco com nome de fundo. Mas a bem verdade é que a ideia de ter
uma sociedade tão integrada que uma terceira guerra mundial fosse inviável,segue funcionando.




Acho que o único elemento que não foi planejado nessa
integração, é que ela iria além da dimensão econômica. Hoje o globo vive
basicamente sob uma única cultura, você pode ir da Thailandia a algum bairro
rico do Nepal e conversar sobre Game of Thrones. Quando a sociedade atinge tamanha
integração é difícil ver nacionalismos sendo mais que mera nostalgia, talvez
seja por isso que sociedades como China e Rússia ainda insistam em ter sua própria
internet. Se você extrapola a bolha cultural, o nacionalismo que mantém esses
sistemas políticos, deixa de existir. Nos EUA e no Brasil esse nacionalismo é
apenas uma nostalgia vazia. E aqui é interessante pensar em como a barreira
para uma plena integração global não é econômica é mera e simplesmente uma
barreira linguística. Só parar pra ver como o segredo é algo que praticamente
inexiste no Estado americano, enquanto na China sem muito esforço, ninguém sabe
muito em que pé as coisas vão por lá. Quanto ao Brasil, o mundo que já é indiferente,
para no português.




A alta política mundial sempre foi uma salada sem muito
sentido, o Trump entre resmungos e falas senis só fala em voz alta algo que as
pessoas já sentiam, mas tinham receio de admitir. No fim tudo parece óbvio, até
o que não é.

Monday, September 7, 2020

Minha relação com cinema










Já tem algum tempo que minha relação com cinema mudou. De um
modo geral tenho a impressão que muito do que sou agora passa pela experiência
dos cinemas de rua em Botafogo, pelas pequenas salas das distribuidoras na Cinelândia,
e por quê não? Por aquela sessão de Wall Street 2 no Box Cinemas de São
Gonçalo. Ao mesmo tempo eu não sou mais aquela pessoa, naquela época eu poderia
facilmente maratonar 100 episódios de uma novela colombiana em uma semana, chegar
com 2 horas de antecedência no Poeira para garantir meus ingressos pra ver Aline
Moraes em Dorotéia.





Naquela época era normal pra mim sair pela manhã e passar o
dia perambulado pelos centros culturais da Cinelândia. Eu nem sou tão velho mas
já posso dizer que sinto falta do Odeon sob a batuta do Estação. Nunca vou
conseguir reconstituir a experiência de comprar um ingresso aleatório ali e
sair impressionado, porque sem nenhuma expectativa eu assisti “A pele que hábito”.
E olha que já tentei refazer esse trajeto com “Dor e Gloria” no Reserva de
Niterói.





Pra não dizer que eram apenas bons momentos me lembro de
sair daquela sala, já depois das 23h vendo um tedioso filme italiano, era um
festival. Do filme lembro quase nada, lembro de sair correndo pra pegar o 110
ali no Passeio,cujo último era as 23h30m.





Por outro lado, eu dificilmente lembro muito das peças que
assisti, delas eu costumo guardar a memória de como me senti. Sabe que teatro sempre
é algo distante, naquela época eram as sessões especiais de 1 ou 2 reais no
Odeon competindo com algumas um pouco mais caras no CCBB e na Caixa Cultural
versus os 20 ou 50 reais que eu gastava fácil em qualquer ida ao teatro.


Pra não ser injusto com o Teatro lembro do Marco Nanini nos
Correios, foi barato e a peça foi boa. 


Mas eu não lembro muito da peça. Acho
que teatro é pra sentir mesmo, todo aquele jogo de luzes, o ator entregue com
olhar perdido. É eu dificilmente lembro alguma coisa. Depois eu ainda tentei ver
uma outra montagem de Dorotéia numa sala ali da Cinelândia agora sem Aline Moraes,
não lembro de absolutamente nada, mas essa é porque foi ruim mesmo.





Sobre o cinema, e toda minha vivência audiovisual, hoje eu
sou o cara que assiste pacientemente um episódio de por semana de Better Call
Sall, isso meses depois da temporada estar completa. O próprio ritmo da série
nem parece mais ter pressa, e olha que eu me lembro de assistir empolgadissimamente
3 ou 4 temporadas de Breaking Bad e ficar ansiosíssimo pelo grand-finale... My
baby blue...





É do ser humano, espero, se cansar um pouco do roteiro
repetitivo resumido no cabeçalho deste site, e buscar novas formas de saciar a
alma. Por mais ateu que eu ainda almeje ser, entre prótons e nêutrons, só tem
energia e acho que neste momento minhas partículas vibram noutra frequência De Broglie
talvez explique.



The tissue of social relations in Brazil and economic complexity

 I often miss meeting people with an inner world. They are out there, but even as you get through them it’s usually hard to dive into their ...