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Vista do NAB-UFF |
Algumas discussões sobre ensino superior público brasileiro, que participei em algumas redes sociais.
Aqui meu interlocutor argumentava sobre a privatização, com uma análise muito focada no caso das estaduais paulistas.
As universidades estaduais paulistas são um caso muito especfico, dentro do contexto do ensino superior público brasileiro. O quadro vária muito mesmo se você olhar pras federais do Rio, e ainda mais se pensar na UERJ, que tá no coração do suburbio do Rio. Mas o caso com as estaduais paulistas é que hoje elas pegam muito da elite nacional, qualquer médico que faz uma grana no interior hoje manda os filhos pra estudar em São Paulo. Vc até gera essa distorção de renda mais alta nas úniversidades públicas fora de são paulo, mas em geral isso são cursos específicos (engenharia,medicina). Não dá pra assumir essa lógica pra uma licenciatura no interior Goiás.
Aqui meu interlocutor, falava sobre a concentração de alta renda nos cursos mais concorridos em universidades públicas.
Cara é difícil pra essa galera [Classe C para baixo] competir nos grandes centros, mas muitas vagas desses cursos mais concorridos, nas federais do interior são ocupadas por uma galera de renda média dos centros urbanos. Geralmente é a familia que com a renda combinada dá de 3k a 7k, daí manda o filho pro interior com uma mesada 700 a 1k(o mesmo que ele já pagava de mensalidade), o cara vai pagar uns 300 a 400 de aluguel. Temos que lembrar que a nossa politica de cotas coloca no mesmo barco o cara que faz um colégio particular no leblon com mensalidade de 3k e o cara de itaboraí que pena pra pagar 700, essa galera acaba ocupando as melhores vagas do interior, pq fica dificil competir na cidade de origem. O problema maior é pro cara desse interior que acaba na anhaguera. As estaduais paulistas são mais excessão que regra no sistema público. O cara que fica na mesma cidade tende a acabar numa licenciatura. O pessoal de renda mais alta nas elites regionais, é interesante pq pelo perfil pequeno das cidades, elas não comportam muita variação nas mensalidades,então esse pessoal acaba frequentando as mesmas escolas intermediárias, mas como são filhos de médicos e advogados que ganham bem no interior,essa galera geralmente acaba num pre-vest em SP, e infla a renda do perfil das estaduais paulistas. Em diferentes escalas,isso acaba acontecendo nos centros urbanos em geral. Essa discussão é interessante, pq se vc olhar só os dados de renda vc tá ignorando muitos fatores,são pequenos detalhes, mas como vc tá falando de 50 a 200 vagas por ano, a coisa toma uma proporção.
Meu interlocutor insiste na tese da privatização, com base no contexto que construí
É um modo de entender, eu não acho que seja bem por ai. Tem cidades que se beneficiam bastante desse fluxo de renda, tem outras em que isso dá problema. A UFF tentou a algum tempo, um bonus geográfico pros campi da interior, as federais do norte sofrem bastante com isso, mas ao mesmo tempo vc tem as cidades do interior de minas, e do sul que crescem em volta da universidade. E vc tem também cidades que tão começando a entender o valor disso. É complicado, mas no geral o sistema funciona, tem problemas mas funciona. Cobrar mesmo, que oferecendo isenções, é uma camada de burocracia que só vai afastar o pessoal da universidade, burocracia por melhor planejada que seja tende a dar problema,como o caso das cotas que citei.